terça-feira, 12 de outubro de 2010

sobre o amor de um casal

Imagino o cheiro do ambiente e a intensidade da luz.
Imagino mãos calmas se encontrarem e palavras desconexas serem caladas.
Imagino a cumplicidade na troca de olhares e a sedução deixando-se conquistar.
Imagino a vestimenta de ambos e o trabalho - se muito ou se pouco - em retirá-la. Ou mesmo a total falta dela.
Imagino os lençóis, se já surrados, com um cansaço feliz de servir novamente ao amor. Ou se novos, na expectativa de serem desvirginados pelo desejo afoito, a pedir sempre mais, e mais, e mais, e mais...
Imagino ele, lembrando da camisinha extra-sensível comprada de véspera na Araújo. E ela, confiante por saber que a depilação está em dia.
Imagino os toques, os sussurros, a aspereza com que o soutian deixa o corpo e a suavidade com que a barguilha da calça jeans é aberta.
Imagino tocar, ao fundo, uma música internacional que surpreende pela combinação perfeita com a bebida escolhida, mas pouco consumida.
Imagino ele lembrar ter lido numa dessas revistas femininas cafonas sobre a importância das preliminares. E com isso, se permitir primeiro conferir o prazer de um sexo oral a amada.
Imagino ela, pensando se essa noite terá que se submeter ao sexo anal, porque lembrou-se ter lido numa dessas revistas machistas como os homens sentem prazer nessa região.
Imagino assim, a renúncia de ambos aos seus próprios desejos, na expectativa de proporcionarem prazer e provar o amor que sentem um pelo outro.
Imagino ele a chamando de "minha flor, meu bebê". E ela tratando-o por "meu homem".
Imagino ela marcando a coreografia do ato sexual: primeiro essa posição, depois, aquela outra, e, se ele aguentar, aquela que a Julinha falou que experimentou e finalmente conheceu o ponto G. Amém!
E ele, por sua vez, pensando que vai dar três naquela noite, afinal, o remedinho recomendado pelo Paulão, é phoda!
Imagino ambos renunciando a toda e qualquer previsão de posição, porquanto conseguiram, juntos, chegar ao prazer. Generosamente, ele a esperou conhecer o que nenhuma revista feminina ou amiga soube dizer com exatidão o que era. Mas o que é o amor senão a generosidade? O que é o amor senão o conhecer-se, o descobrir ser? Mas, afinal,o que é mesmo o amor?
Imagino que a música agora é outra, parece que escolhida sob medida para aquele outro momento. Não, não era, ainda tocava a música de antes, acontece que agora ela era sentida, e não somente ouvida...
Imagino ele tomá-la nos braços, fortes e acolhedores, e encaixá-la no seu melhor abraço, em meio a seu peito suado e ainda com batimentos intranquilos de prazer.
Imagino ela, com os cabelos em desalinho, com gotículas de suor na face rubra, se amoldando àquele peito que parece ter sido feito sob medida para ela preguiçosamente adormecer, não sem antes sussurrar o quanto o ama. 
Imagino agora ele tocar suavemente seus lábios com um beijo respeitoso, e em silêncio dizer: "eu também a amo, minha pequena".
__________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário