quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Advogar é para os fracos quando...

... uma pretensa cliente liga às 6 horas da manhã da segunda-feira (!) solicitando o retorno da ligação posto que ela está sem créditos.
Breve comentário: não tem dinheiro para inserir créditos, logo, não terá para honrar os honorários. Próximo!

... o seu pretenso cliente, com aproximados 80 anos de idade, recebeu mensagens de texto de cunho erotizado, de pessoa desconhecida. Manifesta interesse em mover ação penal por Difamação e ação de Danos Morais.

Breve comentário:  o "velho de bolas murchas" e "brocha" (conteúdo das mensagens) quer processar a pessoa desconhecida. Oi? Por razões óbvias (óbvias porquanto feitos os esclarecimentos devidos por essa subscrevente), desiste da demanda. Passa ao interesse em processar a operadora do celular. Mas, hein?!

... em 2002, o seu pretenso cliente pratica crime de Estelionato em outro estado nacional. Em 2012, e com mais de 40 anos de idade, é adotado (sim, adotado!) e tem o sobrenome e, consequentemente, a filiação, alterados. Isto é, passa a ser "outra pessoa". Manifesta interesse em responder a acusação da ação criminal.

Breve comentário: é o cúmulo da honestidade! Ou seria o cúmulo da burrice? Eis a questão!

... a sua pretensa cliente se diz ultrajada por ter comprado goma de mascar com apenas uma unidade na embalagem (um chiclete na caixinha, em bom português!). Deseja, assim, processar a fabricante, pleiteando Danos Morais e Materiais.

Breve comentário: direitos do consumidor versus razoabilidade. Em português rasgado: cadê o bom senso dessa gente?

... o seu pretenso cliente procura os seus serviços porque a sua esposa deparou-se com a fatura do cartão de crédito na qual constava o detalhamento das despesas com determinado motel. Despesas estas gastas com a amante, naturalmente. O pleito não seria o Divórcio do casal, e, sim, indenização contra a empresa de crédito.

Breve comentário: as partes seriam o cônjuge e sua esposa. A "filial" agiria como terceira interessada. Um viva à modernidade nas relações familiares!


Esse é o meu clube, essa é a minha vida!


Em tempo: casos reais acontecidos comigo e - pasmem!- não exclusivos! Há relatos de outros semelhantes em sítios virtuais por aí... HAHAHA'

sábado, 26 de janeiro de 2013

01 vdd:

eu não sou muito dada a cozinhar.
Com ressalva para os doces, para os quais tenho total interesse em aprender e preparar qualquer receita nova por aí!
Formiguinha, oi? ~lixa~
Hoje, exceção da exceção, tinha um filé de frango a pedir um sabor diferenciado do tempero mineiro (leia-se delicioso!) da minha Mãe, e eu me aventurei na combinação nada típica laranja + canela + mel.
Modéstia às favas, ficou bão dimais da conta, viu?!
Para acompanhar, arroz com cenoura e batata soté, Coca Zero com limão e mousse de chocolate.
#gordices
Uma pena não ter dado tempo de registrar com fotos o prato, nem mesmo o vazio, que voltou a ser usado no repeteco!
Agora sim, já posso casar! 
Só me falta o mais fácil: o cobaio, digo, Marido!
01 bjo!

eu, (d)ela e você, e Vinícius.

porque eu sinto inveja dela opinar sobre os contornos da sua barba e você concordar com tamanho mau gosto.
porque eu sinto inveja dela ter livre acesso aos seus lábios e você marcar o pescoço dela com leves mordiscadas.
porque eu sinto inveja dela repousar a mão sob o seu joelho e você pensar que ela gosta da rótula protuberante após a queda da bicicleta aos 5 de idade.
porque eu sinto inveja dela sair com você para comprarem Always noturno e sorvete de chocolate na tpm.
porque eu sinto inveja dela dividir o mesmo guarda-chuva com você na saída do teatro.
porque eu sinto inveja dela ligar no seu celular e você atender no segundo toque porque antes sorriu para o descanso de tela.
porque eu sinto inveja dela dizer ao Nutricionista que você é o responsável pelo desaparecimento das latas de leite condensado debaixo da pia.
porque eu sinto inveja dela aparecer ao seu lado nas fotos da família e nelas você sorrir dizendo xis mesmo sendo avesso a fotografias (ou seria a sorrisos?).
porque eu sinto inveja dela recolher as roupas espalhadas pelo chão do quarto e você desculpar-se, jurando - em falso - não mais acontecer.
porque eu sinto inveja dela sentar no seu colo e você abandonar o trabalho pela metade, sem culpa.
porque eu sinto inveja dela ouvir você desafinar no refrão daquele velho rock inglês.
porque eu sinto inveja dela esconder as chaves somente para você recompensá-la com o seu melhor abraço.
porque eu sinto inveja dela pedir no disk-pizza o seu sabor preferido e coroar você como o Rei da casa.
porque eu sinto inveja dela sair de braços dados com você pela quadra e você apresentar a sua mulher para a moradora do segundo andar.
porque eu sinto inveja dela desligar a tv antes do Jornal da Globo começar e ouvir você criticar o jornalismo malicioso do William Waack.
porque eu sinto inveja dela rir seu riso, derramar seu pranto e você fazer as juras do Poetinha naquele Soneto.
porque eu sinto inveja dela mesmo sem a certeza que você já a tem na sua vida.
porque, parafraseando Vinícius, eu ainda preciso me dizer do amor (que tive), perdida nessa solidão que é o fim de quem ama.

L.C.
[parafraseado o "Soneto de Fidelidade", de Vinícius de Morais]

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Minhas [quase] Férias em breve relatório:


3 livros não lidos, 2 filmes não assistidos, 2 downloads não localizados, 
4 adolescentes novatos, 2 novos clientes, 3 clientes antigos com velhas demandas, 
5 reuniões, 2 kilos a mais, 6 idas ao shopping, 2 ao cinema, 7 idas a Livraria Leitura, 
5 idas ao barzinho, dormir às 3 da manhã e 2 horas após o almoço, 
10 horas diárias na internet, 2 artigos científicos incompletos, 5 revistas não lidas, 
25 novas publicações no blog, 573 fotos novas no tumblr, 74 atualizações no Facebook, 
e menos de 2 minutos para resumir 15 dias de [quase] Férias, com término hoje, 21.01.2013, às 23:59h.
Conclusão: malditos/benditos algarismos arábicos!

L.C.

20 vezes d'ele


  • tomar café com leite no balcão da padaria e sujar o moletom dele com farelo de pão.
  • usar o cartão dele para pagar a entrada do cinema, a bala Mentos e a Coca 700 ml.
  • sintonizar na estação de rádio bossa nova e não saber voltar para a dele rock'n'roll.
  • amanhecer ao lado dele com a luz do sol atravessando a fresta da cortina tom pastel.
  • dar beijinho no rosto dele após o corte provocado pelo gilete de barbear.
  • ir trabalhar no carro dele e esquecer de abastecer.
  • se pôr a fazer cachinhos pequeninos no peito de urso peludo dele.
  • ir na cozinha dele com a luz apagada e sair correndo como uma menininha assustada.
  • ter uma prateleira reservada na estante dele para os seus livros de romance.
  • repetir o r dobrado dele quantas vezes forem necessárias para causar irritação.
  • ficar em silêncio quando o time dele perder de goleada no domingo.
  • abrir o álbum com fotos dele de criança para imaginar o rostinho do filho.
  • esquecer o guarda-chuva dele na recepção do prédio.
  • roubar um naco da sobremesa preferida dele e jurar que jamais o faria.
  • jogar as suas pernas sob o colo dele no banco da praça.
  • falar mal do trabalho dele porque deixou a lasanha esfriar.
  • pegar a mão dele no inverno e esquentar dentro da sua conchinha.
  • bater o telefone na cara dele e ligar em 5 minutos para pedir perdão.
  • rir das novas piadas dele aprendidas na internet.
  • deixar de propósito marca de batom no colarinho da camisa dele.
  • errar a matemática ao falar dele e esperar a correção via sms: "eram 21 vezes, vinte-e-uma!".
L.C.

cada dia mais...

(m)eu [clica n'eu]

domingo, 20 de janeiro de 2013

entreolhares

Ruan* era introspecto. 
E sorrateiro.
E observador. 
E desconfiado. 
E temperamental.
E arredio.
Quando falava era evidente o preciosismo no emprego de cada palavra. 
(Sobre o silêncio do Ruan: minimamente constrangia o interlocutor).

Não foi bem recomendado por qualquer pessoa do Sistema. 
Todos, se não o temiam, o odiavam ou dele mantinham distância.
Até mesmo os demais adolescentes o evitavam e sobre o Ruan elaboravam histórias míticas, que, de tão fantasiosas, beiravam a realidade.
Comigo as recomendações não foram diferentes. Cuidado era a palavra de ordem tanto da direção quanto recomendação da equipe de segurança.
(Sobre o comportamento do Ruan: indiferente a tudo e a todos).

Conheci Ruan no pátio de recreação.
Enquanto todos os demais adolescentes jogavam futebol, este permanecia escorando o muro, à luz do sol, sem camisa, mãos para trás e de cabeça baixa. 
Sozinho, pensativo e silente. 
Dele me aproximei, esticando a mão direita, assim como ajo com todos os outros.
- Muito prazer! Meu nome é Lívia e sou Advogada na Unidade. Você deve ser o Ruan.
A minha mão permaneceu à espera do cumprimento. 
- Oi.
Somente os olhos se moveram.
(Sobre o olhar do Ruan: enigmático e desafiador).

Confesso ter estudado toda a sua situação jurídica pregressa antes de abordá-lo.
A trajetória infracional teve início aos doze anos de idade, sendo permeada por, analogamente, furtos, roubos, usos de entorpecentes, tráfico e violência doméstica, vindo a recidir nesta última em duas ocasiões. 
Ruan foi condenado em todas as medidas em meio aberto e não cumpriu nenhuma delas! 
Da Semiliberdade havia evadido... em todas as oportunidades de atividades externas! 
A propósito, nos conhecemos após apreensão policial da última de suas incontáveis evasões e/ou fugas.
(Sobre as evasões do Ruan: habilidoso, escalava sem dificuldade os quatro metros do muro e não importava-se em ter o corpo retalhado pela concertina).

Para além da sua extensa trajetória infracional, Ruan não possuía vínculos familiares. 
A mãe era falecida e o pai residia no interior do estado, em local incerto. 
Os irmãos menores estavam sob a responsabilidade do Estado, em abrigos institucionais, residência do Ruan até o primeiro registro de fuga.
Passou, desse modo, a se estabelecer nas ruas da capital mineira. 
(Sobre a rua para Ruan: sensação de liberdade).

Com a única tia, mal se relacionava. Esta não nutria boas lembranças do curto período em que o adolescente esteve aos seus cuidados. 
Permanecia nas ruas durante o dia, e, à noite, chegavam ao seu conhecimento as notícias de que o sobrinho vinha praticando pequenos furtos nos comércios do bairro, em companhias "suspeitas". Numa das vezes em que foi chamar-lhe a atenção, este a agrediu. No dia seguinte, entregou-o ao Conselho Tutelar.
(Sobre o referido episódio, Ruan sentenciou: "li-ber-da-de", dito assim, pausadamente).

Ruan foi precoce na criminalidade, precoce nas ruas e precoce no amor. 
De pele mulata, preocupava-se em alinhar o cabelo após a realização de uma centena de abdominais. 
Sua discrição era sua maior característica, sugerindo mistérios a serem revelados.
Ruan foi revelado por uma senhora alguns anos mais velha. Com ela co-habitou por longo tempo permeado por discussões acaloradas por ciúme, traições e pela agressividade após o uso diário de entorpecentes. 
(Sobre o vício do Ruan: reconhecia-se usuário da Maconha e da Cocaína. "Pedra é coisa de noiado doente!", como referia-se ao viciado em crack).

A tal senhora sustentava-o, contudo, Ruan não se afastava da atividade criminosa. 
Dizia que sentia prazer quando abordava a vítima e nela via o olhar aterrorizado. 
Ademais, Ruan era adepto da Magia Negra, participando do sacrifício de galinhas e bodes, e bebericava o sangue dos animais ao final das cerimônias. Tal prática interferia no seu trato com o cachorro da então mulher. 
Suas guias no pescoço não podiam ser tocadas, tampouco retiradas quando faziam sexo. Este, para o Ruan, era assunto que, tal qual os roubos que praticava, davam-no um prazer atípico. 
Por menor que fosse a oportunidade, Ruan a aproveitava e, assim, insinuava-se, sutil, porém, incisivamente. Com o decorrer do tempo as traições deixaram de ser sigilo no bairro. E, com esse mesmo tempo a jovem senhora cansou-se de tal situação, e, numa das brigas mais agressivas, teve o braço e uma das vértebras quebradas. Era o fim.
(Sobre o término do relacionamento, Ruan disse: "ela não podia ser minha mãe e eu não a queria como mulher. Jogar na cara o que fazia por mim foi seu maior erro.").

Ruan passou a pernoitar em hotéis baratos da área de maior criminalidade do centro da cidade. 
Liderou uma quadrilha especializada no roubo de mansões. Numa de suas investidas, com a Hilux tomada por televisores, joias, dólares e quadros de arte, foi surpreendido em flagrância e conduzido para o acautelamento provisório.
Quando sentenciado à Semiliberdade, o MM. Juiz de Direito não atentou para o fato do Ruan não possuir responsável que garantisse-lhe o direito legal à convivência familiar. Não havia mãe, pai, irmão, tio, e, agora, companheira que pudessem viabilizar sua saída aos finais de semana. Dessa forma, sem saída, Ruan evadia na primeira oportunidade.
(Sobre a Semiliberdade para Ruan: "podem prender meu corpo, minha consciência estará sempre livre!". E que ninguém ousasse duvidar!).

Quando condenado à Internação - a medida mais gravosa - passou a receber a visita da solidária jovem senhora que, além de levar biscoitos e chocolates, levava o resto do seu amor. Aproveitando-se disso, Ruan prometeu o afastamento da "vida loka", assim como jurou-lhe fidelidade. 
Após cumprido pouco mais de um ano da medida, Ruan retornou para a Semiliberdade, e, ante as saídas para a realização de atividades externas, não honrou sua promessa, voltando a infracionar e a trair a mulher. E assim seguia o ciclo vicioso da sua vida. 
(Sobre a adolescência do Ruan: estava há poucos dias de completar a maioridade).

Na oportunidade em que nos conhecemos, era essa, aliás, a única demanda que Ruan apresentava. 
Quando esclarecido o fato de que poderia vir a cumprir a medida até os vinte e um anos de idade, reagiu mal, muito mal, chutando a cadeira e batendo a porta da sala. 
Foi contido violentamente pelos agentes, pois acreditavam que este havia me agredido. 
Foi por pouco, bem pouco...
(Sobre o referido episódio com Ruan: senti medo, devo admitir).

Ver Ruan contido sugeria a cena de um animal feroz imobilizado: babava, debatia-se, olhos vidrados, veias do pescoço a pulsarem fortemente. 
Os demais adolescentes (não) reagiam temendo serem suas próximas vítimas. Não à toa já conferiam-lhe tratamento especializado, naquele momento, não podiam agir de modo diferente: afastaram-se e mantiveram-se silentes e imóveis. 
Foi preciso levá-lo à direção para ser acalmado. Após longo período de conversa, tranquilizou-se e pediu para que me chamassem.
- Desculpa, Lívia. 
Incrédulos, todos - eu disse todos! - me olharam.
Sem melhores alternativas, respondi:
- Está desculpado, Ruan.
(Sobre a Lívia para o Ruan: tratava-me pelo nome, e não como a maioria dos adolescentes, os quais me chamavam de "Advogada").

Era uma segunda-feira, final do expediente, um agente da segurança me convocou:
- O Ruan quer falar com você.
À minha espera na sala de atendimento, Ruan levantou-se.
- Pois não, Ruan.
- Lívia, obrigada.
E, de repente, eu vi uma mão suspender-se no ar, a esperar-me.
Sem melhores alternativas, reagi:
- Boa sorte, Ruan.
(Sobre o Ruan para a Lívia: devolvi o seu cumprimento apenas com o olhar, como aprendido no primeiro encontro).


L.C.
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Em tempo: segundo informações não-oficiais, Ruan atualmente encontra-se em cumprimento de pena privativa de liberdade no presídio de segurança máxima, após o cometimento de tráfico de entorpecentes.
O nome do jovem foi alterado para manter-lhe a privacidade a salvo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Tudo é Ofensivo (?)

de abobalhado e louco cada um tem um pouco


O sistema público de saúde não conseguiu fechar o diagnóstico. Para qualquer leigo era inegável, porquanto, visível, tratar-se de um louco, um abobalhado.


Quando criança, juntamente com as irmãs eram enterrados vivos no buraco cavado pela mãe no chão de terra da cozinha, a fim de esconder as crianças dos seus clientes. Não para poupar-lhes dos gemidos e gozos, mas sim para não incomodarem a realização dos inexatos 6, 7 programas da noite.

O pai, cliente desconhecido, não saberá que o filho sempre apresentou comportamento diferenciado dos seus iguais. Tanto no jeito de falar, manso e abobalhado, do olhar de piscadas lentas e abobalhadas, como nos trejeitos comedidos e abobalhados até as passadas longas e abobalhadas

Alvo de chacotas na escola, dispersava facilmente a atenção nas aulas e não tinha paciência alguma para permanecer comportado por longos períodos. Arrumava logo um jeito de sair, nem que fosse na base dos gritos e portas esmurradas, e, transtornado, proferia ameaças de morte contra quem o impedisse de cruzar os portões da saída.

Descobriu na Maconha finalidade terapêutica. Com ela sentia-se calmo e tranquilo, e não atentava para as provocações alheias, tampouco para a mãe alcoolizada e dos muitos homens que frequentavam sua casa. E, também, não ouvia os sussurros de prazer e o choro de fome das irmãs.
Iniciado no vício, descobre em pequenos furtos meio para mantê-lo, assim como para comprar "bolo de padaria, macarrão e iogurte".

A mãe elege como marido um dos seus melhores clientes, e a vida em família passa a ser insuportável, com surras frequentes e constantes visitas da polícia na casa. Passa a morar com a avó e depara-se com uma família não muito diferente: presenciava diariamente os tios agredirem a já debilitada senhora quando esta negava dinheiro para a compra de mais uma pedra de crack. É sob esse cenário que decide viver sozinho, ser independente aos 11 anos de idade.

Acolhido pelo tráfico, descobre-se dependente de um back*, e, ter o vício garantido em troca da realização de serviços como aviãozinho*.
Em pouco tempo é apreendido pela polícia, e recebe uma surra "para não dar mais trabalho" àquela, deixando-o ainda mais abobalhado com a "violência dos homi". Passa a andar armado, buscando no velho cal.38 a segurança necessária para suas investidas ilegais.
Nova apreensão, é alvo de brincadeiras abobalhadas na "cadeia para menores". 
Encaminhado para abrigos, novas são as humilhações pelo seu estado abobalhado de ser.
Em liberdade, retoma o vício e as atividades, e, com poucos dias, retorna à "prisão".
Fica ainda mais abobalhado quando o Juiz diz que ele precisava de "tratamento de cabeça" e determina o cumprimento de uma "pena" em outra cidade, com gente que "fala e pensa muito rápido".
Belo Horizonte o acolhe, e são iniciados os trabalhos.

Com o tratamento mental em dia, passa a organizar-se no tempo e no espaço, e aprende como é conviver em sociedade. É, agora, um louco que consegue se comunicar, educado e cativante, e não mais um "louco abobalhado". Passa a ser respeitado pelos demais adolescentes, "visto como gente".

Na escola, após ajustamento de conduta, é permitido ausentar-se da aula antes do término, respeitando-se, assim, os seus "limites", desde que não importunasse os demais alunos, não desrespeitasse a professora e comprometesse a dividir suas dificuldades em momento oportuno. Sua única falta seria esquecer o caderno no ponto de ônibus todas as semanas.

Cessa com as atividades ilegais quando se convence que, como ajudante de padaria, seria "mais feliz" já que poderia comer "bolo de padaria de graça" e, nesse assar de bolos, enfim teria uma profissão. Conclui o curso com nota 7 de aproveitamento.

No entanto, não havia família que o acolhesse nos dias de visita. A mãe, então usuária de crack, passou a residir nas ruas. A avó faleceu de causas desconhecidas. O padrasto recusava-se a recebê-lo, afinal, sobre ele não tinha qualquer "obrigação de responsabilidade". As irmãs estavam recolhidas em um abrigo. Um tio fora morto pelo tráfico e, o outro, evangélico, com "família simples e honesta", negava aproximação. 

Descobre-se outro tio, este residente na capital e dono de uma oficina de materiais recicláveis. Considerando a pouca convivênvia com o sobrinho, aceita-o apenas em visitas esporádicas, vindo a cessá-las com a justificativa de que o adolescente "fazia uso da erva, na laje, a qualquer hora do dia", despertando a atenção da vizinhança e comprometendo o seu negócio. Por esse motivo, não queria "chateação para o seu lado".

É essa a atual situação do abobalhado: os eixos da medida socioeducativa estão cumpridos, contudo, não há família para acolhê-lo.

É o texto da lei a ignorar os fatos reais da vida. 
É (mais) essa situação que o Estado - abobalhado- não previa.

L.C.
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Back é a denominação popular para o cigarro de Maconha.
Aviãozinho é a denominação dada ao iniciante no tráfico de entorpecentes, responsável pela transporte das substâncias para os pontos de vendas.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"coisas minhas, talvez você queira saber, SIM!"-,

era a seção que eu mantinha no blog, apontando algumas minhas características que, dentre virtudes e defeitos, eram minhas características! Egocentrismo, aloouuu!
Fiz o resgate das que se mantêem e agreguei outras novas (até quando?). 
E, SIM, eu adoro falar sobre mim! Sou assunto para muitas e muitas publicações...

Lívia e as coisas do Zodíaco:

- Sou libriana com ascendência em câncer. Preciso entender o que isso significa. Por isso não me importo em ler meu horóscopo em revista velha. Preciso conferir a criatividade do colunista em reinventar as “previsões” para amor, dinheiro e saúde.
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Lívia e seus MIMIMI’s:
- Se eu implico com você, provoco e conquisto sua irritação, ironizo suas falas, interpreto o seu silêncio e queixo quando você faz falta, PARABÉNS! Você é realmente importante para mim! E isso importa muito. Para você, claro! ~lixa~

- Se eu estiver com ciúmes de você, vou me calar num silêncio sepulcral. E, quando perguntar o que tem de errado, vou dizer que “nada, não! Vai lá ficar com a fulana!”.
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Lívia-nostalgia:
- Por não curtir modismos, quando criança, não tive um Tamagotchi. Hoje teria um. Sou adepta da moda retrô, demodé que sou!

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Lívia e as novas tecnologias:
- Tenho aversão a quem fala comigo me cutucando. Por acaso tenho cara de celular touchscreen? 
- Tiro o cabo USB do computador sem removê-lo com segurança, porque gosto da sensação do perigo.
- Desligo o micro-ondas há um segundo do fim para mostrar quem é que manda.
- Não gosto de telefone/telefonema. É inconscientemente proposital que meu celular esteja longe dos meus ouvidos. Não raro o telefone da minha casa fique mudo, é porque eu fiz um pacto com o interruptor de energia nas noites que precedem finais de semana e feriados.
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Lívia-bate-papos & fatos:
- Não cumprimento com "oi" e não me despeço com "até". Muito falÇo.
- Reflito antes de responder um "tudo bem".
- Quando estou puta digo "ok".
- Emoticons isolados nada dizem, demonstram se não a falta de assunto, excesso de ironia.
- Quem demora mais de dois minutos para responder no bate-papo faz pouco caso.
- Não gosto da web cam; ela é prima de primeiro grau do maldito telefone.
- Despeça-se de mim com um beijo sem abreviações ou ponto de exclamação, por favor.
- Eu confesso: já bloqueei amigos por falta de assunto. É o meu jeito estranho de salvar a amizade do tédio.
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Lívia e suas gordices:
- Odeio pipoca! Toda a humanidade deveria sentir-se indignada com aquele isopor salgado, de mau cheiro e lembranças à falta no Dentista.
- Tudo precedido do nome bolinho - doce ou salgado, frito ou assado-, é gostoso!
- Picolé de limão. Trident de morango. Mousse de maracujá. Caipirinha. Por fim, Buballo de tutti-frutti. Sou eu comendo frutas.
- Chocolate engorda e faz bem. Como sem restrição à balança e ainda fico feliz com a ingestão extra de endorfina!
- Com a pobreza do trocadilho, biscoito é Passatempo! Bono mesmo é de doce de leite!
- Em Churrasco que se preza não falta pão de alho!
- Eu gosto muito de farinha e como nos alimentos mais inusitados! Almôndegas com pirão agridoce são divinais!
- Fiquem atentos! Não é em qualquer esquina de Minas que se encontra o autêntico pão de queijo! Se recheá-lo com qualquer coisa estranha (linguiça de porco, por exemplo) aí sim ouvirá o bão dimais da conta característico!
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Lívia e outras futilidades:
- Apesar da preguiça, a minha curiosidade me instiga a ler manuais de instrução e rótulos de produtos. Além de me induzirem ao erro, fico satisfeita em sempre aprender uma palavra nova!
- Minha cor preferida é... não ter uma cor preferida!
- É piegas, é cafona, virou pagode, mas Amor é pra sentir e não pra entender!
- Quando bebo, falo e escrevo - SMS – merda! Fazer, nunca fiz! É o que dizem meus amigos!
- Fico indignada em ter que pagar as mesmas contas todos os meses! Luz, água, internet, telefone etc, deviam ser anuais.
- Handebol era o meu esporte preferido. Eu jogava no gol, posição própria para os nerds.
- Tênis – o esporte- é entediante. Tênis – o calçado-, reservo para caminhadas. Pênis- o membro- tenho nenhum, nasci operada. Esta babaquice é para dizer que torço pelo dia que a Homofobia seja criminalizada!
- Eu sou radicalmente contra a violência nos animais, mas curto um Rodeio de Touros e Cavalos. Sempre torço para o animal. Não me refiro ao homem, naturalmente.
- Parei de fumar na virada de 2012/2013. Em contrapartida, dei-me novo guarda-roupa. Troquei tons cinzas-fumaça por cores primaverís!
- Adoro ler Biografias. As da Maysa, Caio F. e Clarice foram as que mais me encantaram.  Imagino que um dia eu elabore a minha própria a partir das postagens no PB!

L.C.


ví,rgulas:


por mais que leia e releia obras e reformas ortográficas, sempre serão desafiadoras.
Acredito ser difícil nosso entrosamento por tomá-las como pausas. É que os três pontinhos nas/das reticências definem melhor a mim e a minha infinitude de pensamentos... 
Às vezes um tanto babacas, reconheço.
Veja este.

L.C.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Não.

Não é porque ele é gente que faz sorrir sem muito empenho e pretensão.
Não é porque seus olhos faiscam de tão encantados (e encantadores).
Não é porque numa única noite marginal, tratados assuntos marginais, seguimos com uma Amizade marginal, às voltas com nossas marginalidades.
Não é porque nos prometemos Amores, tendo eu já honrado com tal promessa. Oi? Há!
Não.
O Eduardo vai além, e foi além com o Ao mar ou amar?, reproduzido do (In)Certo Encontro [mais aqui]. A nossa sintonia está tão em dia que, sem saber de na-da! do que se passa, ele reduziu a termo todo o meu silêncio...
E, assim, a Literatura, franciscana, atira-o para o mar da Psicologia. A Psicologia, altruísta, devolve-o para as areias da Literatura.
Nesse vai-e-vem, não há dúvidas: Amado será por qualquer terra ou mar em que se aventurar, Dudu!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Ao mar ou amar?


Afinal de contas, me pergunto intrigado, que espera alguém que determina o fim ainda antes do começo? Por que se dispõe a ir a lugares se ao fim da rota o destino é sempre voltar atrás? O que pretendem esses "aventureiros" que dizem se lançar ao mundo e à liberdade, mas estão presos aos seus mapas?

Me pergunto ainda o porque destes corações serem colocados no lugar mais nobre. O que os fazem figurar no topo do anseio dos corações atuais? O que sei é que pobres então, são aqueles corações estranhos a esses. Corações admiráveis de seres de olhos abertos e atentos. Andantes, quase sempre solitários, pedintes de amor e orientados pela verdade. Aventureiros natos, mas quebrados pela raridade de encontros reais. Em seus caminhos cansam-se de esbarrar com um mar inundado dos corações primeiros, que julgam que tomar a si próprios é determinar os rumos, sem saber que seu controle é quase sempre falho. Estes, ainda assim, são sedutores - não natos - facilitados por sua falta de implicação diante das coisas, e por sua suposta liberdade, que mesmo às avessas, alcança e encanta os pobres corações marginais. Impressiona ainda mais o modo como, com a mesma facilidade, se presentificam apaixonantes e então desaparecem.   Pretextos não faltam: Simplesmente não deu certo, afastamento ocorrido “de forma natural”, que se pode fazer? As coisas são assim.  Bem vindos à natureza inventada dos corações contemporâneos, feitos dos mesmos materiais "naturais" dos prédios que prometem segurança e se tornam prisões, e das mídias que asseguram proximidade e só fazem afastar.

Para os corações estranhos, natural é reconhecer e se entregar, se deixar levar pela beleza do que se viu. É respirar os ares de um fim que não se domina, mas que se quer chegar a tocar em plenitude. Naturais são os olhares se firmarem ou se afastarem, são as conversas fluírem ou simplesmente não, são os beijos se entrelaçarem ou darem nós. Natural não é encantar e fugir, ver beleza e deixar pra lá, vislumbrar sim e fazer-se não. E cá estou eu a me perguntar novamente: Que querem estes corações que constroem pontes para não serem atravessadas? O que querem em suas aventuras - inventadas e sem destino - de mesmo roteiro em todas as viagens? Qual é a graça de saber o fim e tomar o rumo a fim de, simploriamente conferir? Aventureiros, para mim, são os corações estranhos que não determinam rotas, que as reconhecem ao longo do caminho e então as seguem. Eles sim descobrem o mundo sem o mapear, se deixam surpreender e permitem que a verdade se os apresente.

Ah! Mas estes estranhos corações se partem com extrema frequência e, por vezes,  derramam-se em lágrimas. Meu alento é que estas lágrimas destes corações que estão à margem, se derramam sobre o mar, e são aviso de que estão ali,  ainda que quebrados, dispostos a quem ousar com eles descobrir novas rotas. (A mar)gem é a salvação dos perdidos ao mar. Portanto, aventureiros natos, se souberem esperar sua hora, seus corações hão de deixar de ser estranhos. De seus barrancos marginais, fazei portos e sê horizonte para aqueles tantos barcos, pseudo-aventureiros que furaram e que ainda vão furar - estes, assim como seus corações, também se quebram. 

Não mais estranhos corações, suas aventuras começam aqui: quando todo coração, viajante sem rumo, em um cais vem se abrigar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Solidão, foge que eu te encontro, que eu já tenho asas... Isso lá é bom?!"

"Doce solidão" - Marcelo Camelo
Solidão é você discutir com o site de vídeos que anúncios são para o Classificados do jornal de domingo. 
E, Doce solidão é você pular o anúncio com a mão canhota; a outra ocupa-se em levar a colher do brigadeiro à boca.

L.C.

"I love you to the bones" *

"Ana's Song"- Silverchair
Dessas canções que traduzem sua anoréxica forma de Amar...
L.C.
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* Eu te amo até os ossos 

domingo, 13 de janeiro de 2013

duzentão


Pedro chegou em casa, atirou a mochila sobre o sofá e procurou o jantar guardado pela mãe na geladeira.
Foi um dia exaustivo. Às cinco da manhã já estava a ajudar o pai na obra. 
Após seis horas de cimento, sol escaldante, tijolos, marmita fria e cinquenta reais percebidos como servente de pedreiro, vestiu o uniforme amassado, tirou a argamassa do solado do tênis e foi a pé para a escola. 

Quando criança dividia-se entre soltar pipa e auxiliar a avó na fabricação de salgados. 
Ainda moleque saía com o balaio de pasteis e coxinhas pelas ruas da periferia da capital, retornando para casa somente com os guardanapos sujos de gordura. 
Na viela que dava acesso à rua, encontrava-se com os seus colegas de classe, estes igualmente jovens, mas já iniciados nas práticas da traficância. Cumprimentava-os, trocava uma ideias, e dirigia-se para casa, pois o pai o aguardava para auxiliar-lhe com o dever de casa.
Pedro decidiu cursar Engenharia Civil na federal mineira, e, para tanto, vinha juntando economias para custear um cursinho pré-vestibular de qualidade. 
Advindo da escola pública municipal, seu maior sonho era pendurar o diploma na parede da sala, ao lado da imagem do Consagrado Coração de Jesus.

Naquele dia, tomado pelo cansaço, Pedro decidiu não rever a questão de Física mal compreendida durante a aula. 
Iria até a casa da avó, localizada nos fundos do terreno, para tomar-lhe a benção, e por lá se abrigaria. Apesar do porte físico conferido pelo carregamento das latas de cimento e pelos seus dezessete anos de vida, tinha medo de dormir sozinho em casa. 
Não encontrando a avó acordada, jogou o colchonete no chão, retirou o travesseiro e os lençois do velho armário, e preparou-se para, enfim, dar por encerrado aquele dia. 

O silêncio cortava a madrugada quando Pedro ouviu o rangir da porta. 
Arregalou os olhos.
No escuro do quarto, sentiu uma mão subir-lhe as pernas. 
Interrompeu a respiração.
Entre gritar por socorro e mijar-se de medo, permaneceu calado e imóvel.
E, então, alguém, atrás de si, pediu-lhe silêncio.

Mesmo anestesiado pelo medo, Pedro identificou a voz como sendo a da prima, Raíssa.
Sem entender muito bem o porquê, lembranças dos puxões de cabelo, das bolas de futebol furadas e dos selinhos trocados no pêra-uva-maçã-salada mista, vieram à tona. 
Seguidas foram das recentes advertências do pai de afastar-se dela, após o seu comportamento mal falado pelos vizinhos, das idas quase diárias ao baile funk, do uso de loló e os suspeitos vidros embaçados dos carros parados na rua de cima da casa. 
Mal sabia o coroa que fazia tempo que ela sugeria-lhe muito além de selinhos de frutas... 

Enquanto recordava, a mão vasculhava o conteúdo do short. 
Um misto de desejo e desespero o abateu. Era homem, ela, mulher, e encontravam-se sozinhos, com a luz do corredor a invadir o vão da porta. 
Sim, há muito ela o atentava e ele resistia bravamente, não correspondendo às suas investidas, apesar dos chamamentos de frouxo e vacilão.
Tomado pelo desejo, permitiu aquela mão chegar ao seu sexo. 
Ela sussurrou-lhe, então, para que se virasse e encontrasse o verso do corpo. Estaria a presenteá-lo com a bunda.

O gozo veio rápido.
Desajeitado, vestiu o short e pediu para que dele se afastasse. Raíssa recusou-se, e, com a luz que adentrava no ambiente, pode perceber que ela encontrava-se totalmente nua. 
Rapidamente tomou o colchonete e o travesseiro debaixo dos braços, e dirigiu-se para a sala, onde estava um outro seu primo dormindo no sofá com a tv ligada.
"Foi só um anal, foi só um anal..."-, repetia, tentando convencer-se.
Não conseguiu dormir o restante daquela noite.

Pedro não revelava o seu segredo: tratava-se de um duzentão*.
Envergonhado, negava todo o ocorrido.
"Foi ela quem me provocou, Advogada, eu estava quieto no meu canto! Ela é uma puta, todo mundo sabe!"-, exclamava num tom abaixo, para não ser ouvido pelos demais, com medo das represálias.
Todo e qualquer esclarecimento feito seria em vão. Pedro sentia-se e dizia-se injustiçado.  
"Ela estragou a minha vida! Eu estava no caminho certo, ia fazer faculdade! Agora estou aqui, misturado com esse monte de vagabundo! Então eu sou um bandido?!"-, e chorava, ressentido.

Apesar da revolta, Pedro comportava-se bem, sendo admirado pela educação com que tratava a todos e pela dedicação para com os estudos. 
Destacava-se, também, como artilheiro do time de futebol da Unidade e pela torcida inflamada pelo Atlético Mineiro em dias de clássico.
Quando questionado pelos outros adolescentes, conforme acordado, dizia ter "rodado no tráfico" e dava por encerrado. O ato passou a ser um assunto velado tanto na Unidade quanto na sua família.

O tio, pai da Raíssa, ao saber do ocorrido, quis matá-lo. Não aceitava o fato da sua "princesinha" ter sido violentada. Foi ele o denunciante à polícia, cuja qual o abordou com violência e na frente de todos os alunos, um dia após o ocorrido.
O pai, apesar de sentir-se humilhado, estivera a todo momento a seu lado. 
Uma vez condenado, cessou as visitas. Não sujeitaria-se às revistas, e não teria condições de "ver o seu menino atrás das grades", dizia.

O trabalho com Pedro foi desafiador. Era imperioso que o adolescente compreendesse que todo o ocorrido naquela noite tratou-se de um crime (no seu caso, de um ato infracional).
"Isso não está certo, não, Advogada! Eu preciso falar com o Juiz, ele vai ter que entender meu lado!". 
A condenação de Pedro viria a ser apreciada em grau de recurso de Apelação. 
Igualmente desafiador para a Psicóloga que o atendia. Esta, quando veio a saber dos motivos reais que levaram o adolescente ao cumprimento da medida, não soube (ou não conseguiu) dissociar a Psicóloga mulher e a Psicóloga mãe de uma menina de quatro anos da Psicóloga profissional, integrante de uma equipe técnica da socioeducação. Ademais, Pedro recusava-se a falar com qualquer outra pessoa sobre o ato. 

Desafios à parte, restaria dar início ao processo de execução da medida.
A Psicóloga deveria despir-se, ao máximo, dos seus (pre)conceitos e juízos de valor, e executar o seu trabalho. O adolescente, por sua vez, buscaria compreender, tanto quanto possível, a gravidade do ato praticado e por ele responsabilizar-se, cumprindo a medida socioeducativa imposta. 
O trabalho seria conjunto e cada um poderia contar com o outro como parceiro.
Touché!

Pedro não concluiu o Ensino Médio, sendo reprovado por infrequência. 
"A escola é muito longe da Unidade, dá preguiça!"-, justificava.

Pedro iniciou o uso de entorpecentes.
"Para relaxar os pensamentos..."-, e gargalhava.

Pedro fez uso das suas economias para adquirir uma moto. Não mais queria a faculdade de Engenharia Civil. 
"Meu coroa não vai se orgulhar de mim nem com o título de Presidente do Brasil! Ah, o Lula não tem diploma e foi Presidente, eu posso ser também!"-, ironizava.

Pedro não foi ao enterro da avó. 
"Exploradora de trabalho infantil, aquela velha!"-, sentenciava.

Pedro afastou-se da família. 
"Se eu ver aquela uma, aí, sim, vão poder me chamar de duzentão!"-, referia-se a prima.

Pedro criticava a sociedade. 
"Os bandidos de verdade estão por aí e a polícia não faz nada! Aliás, ninguém, NINGUÉM faz nada"-, revoltava-se.

Pedro recusava conversar. Estava cansado de ouvir e não darem-lhe ouvidos. Ora, o Juiz não "entendeu o seu lado"; a Apelação foi improvida.
"Leva a mal, não, Advogada, mas que justiça é essa que vocês fazem?"-, indignava-se.

Pedro não sabe, mas é em busca dessa resposta que eu saio de casa todas as manhãs.

L.C.
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Os nomes dos personagens foram trocados para manter a salvo suas identidades.
Duzentão* é a denominação popular dada ao autor dos Crimes contra a Liberdade Sexual, em menção a tipificação do Código Penal pátrio (artigo 213 e seguintes).

- - - - - - - - - em construção - - - - - - - - - - - - - - - - - -

- - - - - - - - - - - - tal como Chico _____________________
L.C.

"Esperei chegar a hora certa por acreditar que ela viria".

"Vida real", 
Humberto Gessinger 
[Engenheiros do Hawaii]
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Uma indagação: 
quando?

L.C.

sábado, 12 de janeiro de 2013

e, então,

você atira, sem qualquer pudor, suas pernas sobre o meu colo, e enlaça um nó.
Nó de pêlos, minhas curvas e a piedade conjunta sobre aqueles que jamais terão esse momento para sacramentar. 

L.C.

Sentimento de dó

quando a chamada do jornal que você acompanha diariamente refere-se aos últimos acontecimentos de um reality show.
L.C.

Do Casamento - art. 1.511 e ss do Código Civil Brasileiro


Confesso não ler e-mails. Por desleixo, preguiça ou falta de tempo, não leio.
Geralmente consulto minha caixa de entrada quando avisam-me terem enviado determinado documento ou quando preciso tratar com alguém assunto de certa relevância.
Eis que, sem muito o que fazer, verifico, nessa madrugada, as minhas mensagens.
Dentre propagandas, anexos com powerpoint, Facebook dizendo isso, Blogspot aquilo outro, deparo-me com o e-mail de um querido amigo, o Gustavo.
Tomei a liberdade de publicá-lo ipisis litteris dado o seu conteúdo.
Leiam-no; é auto-explicativo.
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Date: Fri, 7 Dez 2012 02:51:29 -0800
From: Gustavo Coimbra
Subject: URGENTE!
To: Lívia Cândido


Livinha, é urgente, vou me casar! risos
Não com você, como eu previa há... há quantos anos, mesmo?
Não sou dado a Matemática, sabemos muito bem! Nenhum de nós era, não é?!
Calculo uns 7, no máximo 8 anos... poxa, como o tempo passou rápido!
É isso: informo-lhe que, no dia 13 de dezembro, estarei a subir ao altar e dizer sim a uma mocinha assim como você: linda! Sempre tive bom gosto, não é mesmo?!
Gostaria de contar com a sua presença na cerimônia, no entanto, penso ser um tanto constrangedor e complicado. Constrangedor porque ela conhece você "por ouvir dizer" e sente um ciúme daqueles! Complicado porque a cerimônia se dará no interior de São Paulo, onde passamos a viver desde que fui aprovado no concurso do MP. Você disporia de recursos temporais e financeiros para providenciar uma viagem em poucos dias? Seria exigir-lhe demais, presumo.
De todo modo, eu vou levar você comigo: a igreja será enfeitada com tulipas!
Dia desses localizei uns escritos em Hermenêutica Jurídica e as lembranças surgiram naturalmente...  
Lá estava você entre as linhas da sua caligrafia personalíssima! Reproduzia bem a personalidade de quem representava, não?!
Quanto ao conteúdo, deixava bem claro quem havia escrito o quê: você, com seus ideais liberais-democráticos (sim, são! Mantenho minha opinião!), enquanto eu, ponderado, pensando numa democracia possível de ser vivida. Nessas linhas você deve estar a exclamar um debochado, porém, encoberto pelo seu charme, "tsc tsc tsc", discordando até mesmo da minha respiração, mas silente, "para ver até onde vai o meu atrevimento", não era assim?! risos
Minhas recordações foram ainda mais longe, Livinha: lembrei do seu perfume! Aquele que eu dizia que dava vontade de comê-la de garfo e faca, e você dizia que os pauzinhos da comida japonesa seriam mais adequados!
Passei pelo seu "bom dia" dito com o olhar, pela forma como você acomodava os sem-número de livros que as acompanhava abaixo da mesa, e pelo seu olhar e ouvidos atenciosos para o que o Professor dizia ás sete da manhã da segunda-feira! Recordo-me do uso do "pela ordem" quando discordava de um ponto, e de fazer um "aparte" quando queria posicionar-me. Curioso como suas colocações despertavam os que cochilavam e os que estavam preocupados com outros assuntos, como com as festas de logo mais!
Lembro, ainda, tentarmos tomar um café da manhã com pão de queijo na cantina do prédio 6. Eu digo tentar porque você era parada pelos alunos da Geo, do Serviço Social e da Administração. Um saco!, eu pensava naquela época. Hoje, penso que você poderia ter se candidatado ao cargo de Vereadora, seria eleita com a maioria absoluta do votos! risos Avessa a "políticas de nichos", como bem rotulava, nem mesmo o DCE e o DA de Direito você pleiteou, apesar das indicações!
Lembro de duas suas amigas cumprimentarem-na com um abraço forte e estranho, meio torto. Vocês justificavam como o encontro dos corações... Eu achava uma babaquice sem igual à época, e, para provocar-lhe, dizia que eram atos próprios de patricinhas, mas o mauricinho era eu, afinal, era assim o tratamento que você me conferia, disfarçadamente ou não.
Por mais que eu tentasse provar o contrário, em muitos momentos você deixava transparecer que eu era um "burguês privilegiado"e pensava e agia como tal. Nas nossas discussões ficavam evidentes essas posições. Avaliando fatos e argumentos, hoje concordo com você. Posso garantir que entendo perfeitamente não o seu preconceito, mas o seu "conceito", como dizia naquelas manhãs e tardes na biblioteca da PUC.
Tardes que eu compartilhava com você, cercados por livros de todas as esferas do Direito, da Sociologia Jurídica, Criminologia, Filosofia e da Psicologia (confesso até hoje não entender você atrelar a Psicologia ao Direito... seria para argumentar e contra-argumentar tão bem como fazia? Eis a questão para Freud responder! risos). Lembro, ainda, de seu carisma conferir-lhe o direito (arbitrário) de tomar sete, eu disse sete! livros sob empréstimo, enquanto, para os mortais, eram permitidos somente quatro. Esse seu carisma era um atropelo, minha cara!
Não vou me esquecer de como se posicionava nas coisas mais amiúdes e corriqueiras: do aconselhamento que o último botão da blusa não se devia abotoar, das senhas mais malucas para o acesso ao SGA (geralmente, palavrões), da maneira atenciosa como atendia o público no SAJ (e do seu empenho nas causas), da forma como dirigia-se aos professores, com absoluto respeito e exaltação, de como ganhava na sinuca ignorando as regras (pato! pato! pato!), da sua fixação por crimes, penas, cadeias e bandidos (és a única mulher que conheço que trabalha com esse pessoal, Livinha!), por fim, das discussões sobre o futebol. Impressionante como sabia dizer sobre o Campeonato não só mineiro, como o nacional! 
Por essas e por tantas muitas outras, eu, como um bobo, me declarei a você, o que era plenalmente visível, de modo que você tinha percebido como eu passei a tratá-la com deferência naqueles seis meses de convivência! Teriam sido tantos outros seis, e mais seis, e mais seis...
Recordo da sua educação e do seu jeitinho em dizer-me não e de como cercou-se de cuidados, com medo de magoar-me.
Justificou dizendo preferir caras mais "alternativos", com idéias revolucionárias, distantes do status quo do Estado, daqueles tipos que "cursa Filosofia no turno da tarde de uma universidade federal, para terem motivo para encherem a cara com o vinho mais barato à noite"! Quanto ao físico, nada dos meus cabelos lisos, da minha cor pálida e do meu porte atlético, você preferia os "cor-brasil", de "cabeças mal tratadas", óculos de vidros, com barriga (ainda acredita que homem sem barriga é homem sem história? Por favor!), que escutassem Pink Floyd e jogassem game no fliperama! Livinha, se eu gargalhei naquela oportunidade com a descrição do seu tipo ideal, o mesmo faço agora! risos
Até nesse momento, se eu já a admirava, passei a enaltecê-la como mulher. Você era menina naquela época, tendo me confidenciado a virgindade preservada para um grande Amor. Uma pena não ter sido eu, só faço lamentar...
Eu, agora, no alto dos meus 29 anos, só posso desejar que você encontre um Amor, Livinha! 
A sua altura, a altura do que você é e tem a oferecer, que não é pouco, longe de ser. Das ironias, confusões e dramas naqueles "dias de mulher" até a sua mais bonita amizade, generosidade, sensualidade (mantém como seu atributo principal?) e o Amor todo grande que você leva por aí, na minha saudosa Minas Gerais!
Não vá oferecê-lo a qualquer um e machucar-se, tá ouvindo? Eu jamais a perdoaria!
Com o presente, venho compartilhar um pouco dessas lembranças, preservando outras que mantenho em segredo e, guardadinhas, levarei ad eternum... nesse momento, para o altar, com você representada pelas tulipas vermelhas, altivas e garbosas!
Livinha, Lí, Ive, "Tantão" - risos, enfim, um abraço como aquele que você trocava com suas amigas (cujos quais eu morria de inveja, agora reconheço! risos) e, se me permitir, o beijo que eu sempre quis te dar...
Do seu "playboy",
Gu.
...............................................
Considerando que o e-mail foi encaminhado em dezembro de 2012, em qualquer tempo de 2013 que eu  respondê-lo, estarei em atraso. Comprometo-me a publicar quando o fizer.
Eu não fui - ou sou - tudo o que ele disse, e, ainda bem que não!  O Gu, sim, era e mantém-se um querido, verdadeiro gentleman!
Não o tenho nas minhas redes sociais, assim como não disponho do seu atual número de celular. Portanto, por ora, o que posso fazer é emanar boas vibrações  para as bandas de São Paulo em sua nova fase e desejar-lhes todo aquele cliché dito para recém-casados!
E, Amor! Sempre!

L.C.