terça-feira, 31 de maio de 2011

depoimentos de amor...



Tem olhos que vão além do desejo de ver, perpassando pelo sentir, ávidos por vida. São olhos negros que me prendem, por vezes me paralisam, como os Dois Olhos Negros, de Lenine.
Os cabelos, de tão claros, podem ser confundidos com a manhã de sol, e todo ia-ia e o iô-iô, de Fogo e Paixão, do Wando.
Tem um colo rosado e seios fartos, que despertam desejo e clamam por aconchego. Longe estão da armação de silicone, como canta Seu Jorge, em Mania de peitão.
As unhas dela têm cores fortes no inverno, como o são as unhas negras da Tigresa, de Caetano.
E tem mãos suaves, gentis, porém fortes. Mãos fortes da mulher Pietá, de Milton.
Seu sexo, um, faz grande o meu amor ; dois, nele não temo naufragar; três, sem nexo e em qualquer lugar, quero nele poder ficar junto ao mar, como Três, quando canta a Calcanhotto.
Coxas de menina-mulher que troca as pernas e troca tudo, e toma pinga de caju achando que é Ki-suco, como divinamente canta em Acode, a da Mata.
E como a Beatriz, de Chico, ela me ensina a andar sem ter os pés no chão...
Ela é toda canção...
É o encantamento havido no encontro entre a minha melhor letra e a mais doce melodia!


J.P. - aprendiz de músico, leciona paixão para a musa de todas as suas canções.

Lívia descrita por Martha Medeiros


.Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço. 


.Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto.

 

> Sou uma mulher que balança.

> Sou uma criança que atura. 


Martha Medeiros

acordei cantarolando... (8)


Ei, há alguém aí querendo ser a minha Zoé?
KKK


.

Nem se pode explicar, nem se pode entender: 



procura-se a mulher e encontra-se a menina

quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

 

Machado de Assis


pílula de Caio


- Ponha uma margarida na sua fossa.

;

como eu pude esquecer o encanto que é essa música, como?


... você que explique a minha paz,
tristeza nunca mais.
(8)

Lispectoriando...


Já que ela não era uma pessoa triste, procurou continuar como se nada tivesse perdido. 
Ela não sentiu desespero. 
Também o que é que ela podia fazer? 
Pois ela era crônica. 
Tristeza era luxo.
Clarice Lispector

domingo, 29 de maio de 2011

depoimentos de amor...



eu não sei se isso vai soar-te como uma confissão de amor, dessas casuais. 
não, ela não é casual, e nem assim poderia ser, afinal, somos tão pouco usuais...
eu quero que você entenda de uma vez por todas que é por você que eu rio, choro e espirro quando dou a cheirar as Tulipas do jardim na procura do seu cheiro.
é por você que eu remendo sentimentos que você, com uma sutileza desesperada esfarrapa, fio após fio, mantendo os nós do meu coração.
é em em você que eu penso quando amanheço às 7, nesses últimos dias gélidos de maio, com um sorriso de goianas bonitas e uma vontade de fazer daquele dia o mais encantado da semana. isso de segunda a sexta, porque nos fins de semana eu amanheço tarde, quando o meu sono se dá por satisfeito e faz-me acordar. e penso em você ainda assim, imaginando-te comigo se afogar no cheiro bom e no calor do meu edredom.
é em você que eu penso quando anoiteço, ao ver o sol de Minas se esconder por detrás de qualquer uma de suas montanhas, e conceber noite de estrelas enluaradas.
é com você que eu me vejo encontrar na rodoviária; sim, beibe, amores precisam de rodoviárias como cenários de encontros felizes. avião fica para a partida, para que esta dure o mais curto tempo da despedida.
é com você que eu dou uma de valente, de experiente, coloco banca de mulher decidida. é que você me faz sentir além do que sou.
é com você que permito-me fragilizar, dizer coisas sem sentido e praguejar palavrões. ah, eu já disse como fico quando você se atrapalha com as palavras, chegando a gaguejar? Resposta: idiotamente encantada. 
é com você que eu insisto, desisto, insisto, desisto e vice-versa. é com você e por nós.
por nós que eu pondero, relevo, ignoro e imploro a deus paciência.
por nós que eu suporto ausências, distâncias e indiferenças.
por nós que alimento vezemsempre o meu desejo por você.
por nós que imagino você vezenquando alimentando o seu desejo por nós. sou humilde, sei que não é sempre que imaginas a mim. desnecessário, porquanto estou todo o tempo em você.
por nós que somos ainda duas vidas na esperança de sermos uma num futuro próximo.
ou não, se lembrarmos que somos bem pouco casuais.


Sem documentos, desorientada no tempo e no espaço, veste camisa de força e canta É o amor em praças públicas.

sobre "de quem não vai da gente"


- E o que a gente vira quando vai embora de alguém?
E o Senhô respondeu:
- Uns viram pó. Outros caem igual estrela do céu. Outro só viram a esquina... E têm aqueles que nunca vão embora.
- Não? E eles ficam onde, Senhô?
- Na lembrança

Vanessa Leonardi


eu (re)comendo a leitura...

... da última atualização no blog da DI.VI.NA Ana Jácomo, o Cheiro de flor quando ri:
Esse mistério
Link: http://anajacomo.blogspot.com/2011/05/esse-misterio.html

porque (re)comendo:

porque acredito que seja a partir do mistério que desvendamos as sutilezas do sentimento...



[...]

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos. Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece e a gente nem desconfia.

[...]
Ana Jácomo

.



[...] 
Então deixa que as coisas se renovem, e que as perdas tenham mais de um sentido, 
que os vazios te ofereçam mais espaço, pra que a vida te compense com o impossível. 
E permita que a alegria se aproxime, e que traga mais calor para os teus dias, quando tudo nos parece um desolo, é possível ainda assim, ser poesia. 
Seja forte, siga em frente, respire fundo, e perceba a importância de se ter braços vazios, pra que se possa ter espaço em si para abraçar o mundo.

Marla de Queiroz

TOP 5 - Jota Quest*

1- Só hoje
http://www.4shared.com/audio/hjFGf_NV/16_-_S_Hoje_-_J_Quest.htm

Hoje preciso de você, com qualquer humor, com qualquer sorriso...
Hoje só tua presença vai me fazer feliz...
Só hoje...


2- Mais uma vez
http://www.4shared.com/audio/ARiQ6_d4/Mais_uma_Vez_Jota_Quest.htm

Viva todo o seu mundo
Sinta toda a liberdade
E quando a hora chegar, volta...
Que o nosso amor está acima das coisas desse mundo
[...]
Eu espero por você
O tempo que for
Para ficarmos juntos
Mais uma vez

3- O vento
http://www.4shared.com/audio/2LbKmjHm/O_Vento_Jota_Quest.htm

E voe por todo o mar e volte aqui, pro meu peito...

4- Amor maior
http://www.4shared.com/audio/UbdJog1D/jota_quest_mtv_-_amor_maior.htm


É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço...


5- Palavras de um futuro bom
http://www.4shared.com/audio/iP0dWMSL/jota_quest_-_palavras_de_um_fu.htm


Preciso tanto aproveitar você
Olhar teus olhos, beijar tua boca
Ouvir palavras de um futuro bom...


6- As dores do mundo
http://www.4shared.com/audio/eMukjS0-/as_dores_do_mundo_-_j_quest.htm


E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Não quero saber
Quem fui
Mas sim quem sou
E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Só quero saber do seu
Do nosso amor...



7- Vem andar comigo
http://www.4shared.com/audio/7PibnBiV/Jota_Quest_-_Vem_andar_comigo.htm


Será que é difícil entender?
Porque eu ainda insisto em nós
Será que é difícil entender?
Vem andar comigo

Vem, vem meu amor
As flores estão no caminho
Vem meu amor
Vem andar comigo


8- O que eu também não entendo
http://www.4shared.com/audio/jR2OltBX/O_Que_Eu_Tambem_Nao_Entendo.htm


Amar não é ter que ter
Sempre certeza
É aceitar que ninguém
É perfeito prá ninguém
É poder ser você mesmo
E não precisar fingir
É tentar esquecer
E não conseguir fugir, fugir...


9- Seis e trinta
http://www.4shared.com/audio/1WgbrL5n/Seis_e_Trinta_Jota_Quest.htm


Eu dou um valor absurdo na vida
Ela me traz bem mais que alegria
Traz alguém pro meu sozinho
Você às seis e trinta


10- Tudo me faz lembrar você
http://www.4shared.com/audio/5KJhpmB9/Tudo_Me_Faz_Lembrar_Voce_Jota_.htm


Um perfume bom
Propagandas de batom
Fantasias pra usar no carnaval
Desatinos, corpos quentes, vendaval
Tudo me faz lembrar você...
___________________________________

* Porque Jota Quest merece bem mais que 5 canções, além de tê-las (a) salvo nas Minhas Músicas do notIbUk!
(Y)



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Se o tal “amor” é impontual e imprevisível que se dane! Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é. “Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer.” Mentira! Por dentro todo ser humano é igual: impaciente, sonhador, iludido. Jura de pé junto que não, mas vive sempre em busca da famosa cara metade! Pode dar o nome que quiser: amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja… No fim dá tudo no mesmo. Pode soar brega, cafona. Mas é a realidade. Inclusive o assunto “amor” é sempre cafonérrimo. Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor. Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto.
-
Luis Fernando Verissimo

pílula de Caio

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Estou com sede de mudanças, mas não quero 

arrastar os móveis, nem desentortar os quadros.

Quero desabitar meus hábitos. 

Marla de Queiroz



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Não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado. Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão. Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você. Se não fosse amor eu já teria desistido de nós.

Caio F.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

~Strip Tease~




Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansiosodo outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.


Martha Medeiros.

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Eu não tenho paredes.
Só tenho horizontes.
Mário Quintana



;



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Mulheres como eu não são fáceis de se ter, são como flores difíceis de cultivar. 
Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui! Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. 
Dessa minha mania tão boba de amar errado.

Caio F. Abreu

eu (re)comendo a leitura...

... de INJUSTIÇA, do meu querido [e quase Mago], 
Fabrício Carpinejar.

Porque (re)comendo:
por identificar-me totalmente com o todo narrado! KKK'



É o mais completo desequilíbrio. Ama-se logo quem a gente odiava, quem a gente provocava, quem a gente debochava. Exatamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação.
[...]
Você mentirá várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor.
F.Carpinejar

pílula de Caio

sem mais.


eis-me

quinta-feira, 26 de maio de 2011

para o Bin

KKK

;


Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, 
assim, ofegante, pra nunca mais soltar.
 Caio F

Lívia descrita por Marla de Queiroz



Eu sou essa gente que se dói inteira
porque não vive só na superfície das coisas.


Marla de Queiroz

sobre Clarice, Ana e Caio...

Vezenquando a tristeza melancólica de Clarice [a Lispector] me acomete. 
E permito-me sofrer tudo o que há para sofrer. E respeito aquele momento sem  dar-me a queixas. 
Vezenquando a alegria serena de Ana [a Jácomo] me invade. 
É quando me sinto verdadeiramente livre-leve-solta! E apresento ao mundo essa minha alegria em sorrisos e palavras de fé e amizade, na certeza de dias melhores e pessoas feitinhas de carinho! 
Vezenquando o sentir exagerado de Caio [o Fernando Abreu] me toma. E me consome. Com ele sofro e alegro-me na mesma intensidade, num desespero de sentimentos que ora ouso traduzir em palavras, vez ajo no meu melhor agir honesto. Se erro ou acerto é juízo de valor que, a cada dia que passa, menos tenho realizado.
Sinto-me mais tranquila, mais segura, mais realizada. Esse é o sentir que realmente tem importado.
Vezenquando eu sou um pouco a Clarice, um pouco a Ana e um pouco o Caio...
Vezemsempre eu sou muito a Lívia.


=*

terça-feira, 24 de maio de 2011

que lindeza. que lindeza. que lindeza

1, 2, 3... testando!


KKK'
disfarça não, beibe!

sobre riscos...



. É preciso se expor sem medo de dar vexame. É preciso colocar o trabalho na rua. 
. É preciso saber ouvir um não e, depois de secar as lágrimas, seguir batalhando. 
. Arriscar, é o nome do jogo. Muitos perdem, poucos ganham. Mas quem não tenta, não tem ao menos o direito de reclamar. 
— Martha Medeiros.   

. OMG, quebelobico!
=*

Lívia descrita por José Saramago

Se tens um coração de ferro, bom proveito. 




O meu, fizeram-no de carne
e sangra todo dia.

Saramago, o Mestre

segunda-feira, 23 de maio de 2011

.


Deu-se conta de que não estava entendendo nada dos seus sentimentos em relação à pessoa que desejava & detestava.
Desejava & destestava, exatamente com esse “&” de Cia. Ltda. , porque se sentia enlaçado, laçado e cansado dessa ligação como se houvesse entre ambos um pacto de feliz infelicidade.

O fato é que sofria. Sofria e amava. Amava e detestava o objeto que amava. Mais complexo ainda: estava apaixonado pelo objeto de seu sofrimento. 
Já nem sabia se amava mais do que sofria, como o viciado o vício. Mas que diabo de amor é esse? (se cobrava), por que tem que ser essa coisa tão desagradável? (se punia), enquanto ia anotando umas palavras no primeiro pedaço de papel à sua frente. 


E foi se dando conta que isto já era uma rotina, uma mania. Volta e meia pegava um pedaço de folha qualquer e ia anotando as características positivas e negativas do seu amor. Era como se anotasse para se liberar. Se escrevesse aquilo e deixasse ao leu, aquilo eram despetalados espinhos que iriam ficando fora da ferida. Ou, talvez, fosse um modo de elaborar os confusos sentimentos. Havia lido num manual americano, desses que mandam anotar e listar o que a pessoa pensa ou aquilo que deve se esforçar por obter, para assim visualisar e clarear seus contraditórios sentimentos e vontades, e então ia anotando.


Mas quanto mais anotava (aqui e ali os fragmentados sentimentos e papéis iam se disseminando dentro de livros, agenda, entre recibos dívidas e dúvidas), quanto mais anotava o que achava positivo e negativo, mais se desesperava porque a coluna do negativo só crescia. Mas quanto mais cresciam os atributos negativos da pessoa amada que racionalmente dissecava, mais preso a ela se sentia. 
Então olhava a lista, como quem faz um rol de compras e se indagava. –Diacho, porque não acabo logo com essa relação?
Topou com uma dessas listas, que havia escrito há meses. Os dados negativos estavam lá:
  • Me provoca insônia;
  • Me deixa em ansiedade diante do telefone;
  • Me transformou numa pessoa insegura;
  • Tem uma estranha oscilação de humor;
  • Me faz sentir ridículo;
  • É muito imprevisível;
  • Inibe meus afetos e palavras;
  • Me faz sentir rejeitado;
  • Tem umas coisas tão infantis;
  • Não se interessa por minhas coisas;
  • É auto-centrada;
  • Na verdade, é imatura;
  • Só quer receber.
Mas aí,contraditoriamente, começava a se lembrar de certos momentos, de detalhes do corpo, ou de alguns instantes de prometida paz e felicidade. Quem sabe se …
Vou pegar o telefone, não, telefone não é o instrumento certo para isto, tem que ser pessoalmente essa conversa, aliás, vou pegar o telefone, mas é para marcar logo um encontro, dizer que precisamos ter uma conversa pessoal e depois, cara a cara, dizer, enfim, que pensei muito que é melhor a gente parar por aqui, etc.
Telefonou. Marcou. Foi, viu e não venceu nem convenceu.
Mas é a última vez, foi se dizendo na volta para casa, como se quisesse se convencer que a derrota não havia sido em vão.


Não foi a última vez. Outras últimas vezes se sucederiam. Precisava ser vitoriosamente derrotado várias outras vezes, como se quisesse gastar o corpo alheio no desencontro dos encontros.
E a lista de defeitos e qualidades do objeto desejado & destestado ia refazendo e reescrevendo, como se, pela reinscrição, a tinta fosse se gastando, como se assim os sentimentos fossem se exaurindo, se apagando, se repetindo, se anulando, com se a melhor forma de se libertar do infeliz amor fosse sofrê-lo até o fim, ou, então, até o momento em que seu instinto de sobrevivência o fizesse, subitamente, romper com tudo e, finalmente, libertar-se.



Affonso Romano de Sant'ana.