Que a minha intensidade não me impeça de respirar
vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já
nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos,
por alguns momentos, absorvê-las com tranquilidade: para que eu consiga dormir
sem ter que chorar ou gargalhar até à exaustão, pois sinto falta de apenas
lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída.
Que a felicidade não me doa
sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos
diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta
delicadeza.
Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo.
Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema.
[...]
Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios
e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que
eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu
possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais.
Que eu possa morrer de paixão e, ainda sim, ser discreta.
Que eu possa sentir
tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for
abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma
companhia.
Marla de Queiroz
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