domingo, 11 de novembro de 2012

[sem título]



porque sentiram-se despidos um do outro.
tiveram o corpo vez congelar de tristeza, 
ora arder de saudade.
achavam-se vis, de nenhuma ou pouca valia, porquanto sós.
esquivavam-se da dor das mais furtivas maneiras, 
como em sendo possível o não-sofrer.
não mais contemplavam o reflexo do outro no espelho.
disfarçavam o incômodo ao optar pela mesa 4, 
nunca antes experimentada.
ao contrário da 7, a oficial das quartas, por anos.
recriminavam a pergunta do garçom:
- mesa para um?
nada confessos, permaneciam em silêncio.
ouviram ainda Chico, o César, questionar: 
- onde estará o meu amor?
novas notas de silêncio.
e gargalhavam com os amigos, para causar a falsa impressão de que estava tudo bem, apesar dos entretantos.
alteravam o trajeto da volta a fim de não passar frente aquela praça, 
espaço de celebração das tardes à luz do sol poente, 
ao som de juras de amor eterno.
questionavam, cada um a seu tempo, a eternidade.
indagavam, cada um a seu modo, o porquê do fim.
conclusões chegavam:
ela: - a culpa é dele! Maldito ciúme, maldita aquela mini-saia!
ele: - a culpa é da mãe dela! Maldita velha, bendita a sua filha!
comeram trufas para remediar a carência.
ele, de maracujá; ela, de chocolate meio amargo.
azedo e amargo, sabores de duas suas vidas.
tempo.
tempo.
tempo.
eis que o senhor da real onipresença e onisciência, decide por agir.
faz emergir lembranças nas fotos do passado.
faz reconhecer o cheiro do outro pelo vão do guarda-roupa.
provoca desconfiança na pia do banheiro organizada, na cama arrumada, 
no tapete esticado ao pé da cama, e no telefone silente.
ao reviver momentos,cheiros e sensações, sopra a brasa da paixão na lareira apagada da sala sem visitas.
e por fim, reacende o sentimento.
apresenta-se, então, indiferente aos fatos.
aos atos.
às palavras ditas no calor da discussão.
desculpa as mágoas deixadas.
perdoa os erros ainda não cometidos.
busca conforto no senhor de todas as coisas,
e, então, unidos, partem rumo ao beco escuro do desconhecido.
vagam em profundo silêncio, têm, como farol, a expectativa de encontrarem sentido(s).
encontra o dele, apático;
o dela, saudoso;
coincidência: amantes.
em sendo o bastante, finalmente estão unos.
correm em direção a vida.
destaca-se: a unidade de vidas.
rumo a paisagem mal definida na imagem,
porém concreta nos corações.


L.C. [29.11.2010]

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