terça-feira, 14 de maio de 2013

de-vagar

permita a mim o seu último colo
pega sua mão pequenina
de dedos curtos 
unhas manchadas de esmalte
de toque discreto e preci(o)so 
procura a minha nuca
acaricia os cabelos e me faz um afago
na tentativa de confortar.
diz que não somos mais'' nós''
no insistente plural 
e trocadilha com dois fios da vida em paralelo
que passam a se apresentar como catetos da hipotenusa.
inicia o discurso de coisas da vida 
e todo aquele blablabla do casal que termina sem brigas
civilizado que é 
(ou esforça-se sobremaneira para ser).
admita que sempre teve tudo para dar errado  
e ironiza num 'olha como somos valentes!'
que fomos muito além do que você previa 
e lia nos astros
nos signos 
nos búzios
tal como o Chico, em ''Dueto''.
dá uma risadinha daquelas cor-de-rosa-sem-graça 
para
em seguida 
desviar seu olhar do meu
e não ter que ostentar uma sinceridade 
que corta a própria carne.
plano dois:
pisca num contínuo 
quase um tique nervoso
na expectativa que suas pupilas não revelem o que eu já (pres)sentia
shiiiu... seu coração pulsa no mesmo si bemol que o meu...
e
então
disfarcemos
tratemos da cotação do dólar
da instabilidade do tempo
dos últimos capítulos da novela 
dos planos para o domingo.
cri-cri-cri
e sem assunto ficamos.
não há 'nós', palpitações,desejos
verdades, bicos e discussões
conjuguemos nosso tempo no passado.
olha o relógio sobressaltada
consulta as horas
o dia precisa começar
acorda, baby!
não temos mais toda a eternidade
(tivemos?).
e
entre silenciosos olhares dos passantes
despedimo-nos
o calor do seu corpo um pouco se derrete no calor do meu
nossos braços se cruzam num abraço
confirmo que seu batom mancha
que o seu cheiro penetra derme e epiderme
para culminarmos no cliché 'até mais'.
assim será o nunca mais você e eu 
o mais recente se dar conta 
que eu sempre estive para você 
como agora está o nosso mais novo fim.

L.C.


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