Depois de te ver contrair cada músculo do corpo e com as mãos visivelmente trêmulas, esmagar o pouco que restará dos sujos lençóis embolados, focarei em teus olhos e lá no fundo, em um paraíso quase impenetrável, lerei teu pedido mais humano: tu implorarás, sem voz, para que eu deixe, por um só momento, o lobo faminto de lado. E pedirás, com a força inquestionável de um sorriso, para que eu te acolha rápido e te segure no colo. Só até teu ritmo cardíaco normalizar e o oxigênio voltar a preencher teus pulmões.
Sei que depois disso, quando a zabumba acalmar dentro do teu tórax, bateremos um papo construído com franquezas e com certeza, dividiremos um cigarro merecido, que certamente acabará marcado pelo tom do teu batom cor fome.
Sei que depois de alguns minutos, cortaremos as nossas vozes e em silêncio, num estado de quase torpor, voltaremos nossas atenções para o barulho humano da rua. Lutaremos contra o sono, pois antes de cerrar as pálpebras, buscaremos um último entretenimento no som das buzinas e dos cacos, caídos no asfalto graças às colisões comuns nas imensas avenidas. Ficaremos em silêncio, no escuro, ouvindo o ritmo dos falsos gemidos desferidos no quarto ao lado. Escutaremos calados o ruído de turbina do ar condicionado que só servirá como enfeite para nossa brasa infinita. E sem qualquer explicação, juntos, nos sentiremos totalmente protegidos, dentro de algum motel barato.
Apertará teu corpo contra o meu e eu, farei o mesmo, para que saibas o quanto posso ser humano, além de bicho faminto.
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