sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"Qual o sonho da alma?", por Fábio Chap

Acordou no meio de um sonho; não sabia o que era ontem e o que será amanhã. Só sabe o que é o agora.E o agora não aceita menos do que tudo que a alma quer.
De começo, assustada pelo novo momento que a vida proporcionava, mas aliviada por deixar pra trás todo peso dos julgamentos de quem não estava na pele dela.
Deu tchau pro falador – que passa mal – e foi ser feliz. Tomou cerveja a noite inteira. Dançou com os bons de passo e se permitiu flerte e aperto com os bons de papo. Não tinha mais hora pra voltar. Foi realizar os sonhos que tinha no corpo e no olhar. Desligou o celular e os preconceitos. Naquela noite beijou homens, mulheres e não tentou encontrar o sentido da vida. Desistiu desse papo bobo de pé no chão, afinal, já disseram por aí: ‘quem faz sentido é soldado’.
Incrivelmente esse dia não teve ressaca. Acordou em outra cidade. Topou viajar para as montanhas com um homem cerca de dez anos mais velho. Quando levantou da cama, sorriu. Não se importava com o que havia decidido ontem, nem com o que precisaria escolher amanhã. Deu valor para o primeiro pé que tirou da cama. Sabia que aquele era o pé que lhe conduziria à mulher que sempre quis ser: mais livre até do que os passarinhos que curtia desenhar.
Ela gostava do infinito, não tinha vergonha do sorriso bonito. Por amar sorrir, pouco a pouco desistiu da vida que lhe ensinaram a levar. Foi ensinar seu corpo a seguir os passos que a mente imaginava. Largou emprego, namorado machista e mãe autoritária. Foi pra praia, mas também foi pro campo. Foi pra Londres, Amsterdã e pra Amazônia. Visitou o Egito e namorou um alemão. Aprendeu um pouco de francês, a dormir em redes e acordar abraçando. Leu os livros que não tinha lido e assistiu o pôr do sol amando quem ela se tornou.
Se – hoje – alguém lhe diz o que fazer, ela responde: ‘obrigada pelo conselho.’ Deita no seu travesseiro e fala pra si mesma:
‘É isso que minha alma quer? Vim nessa vida não pra aceitar o que é imposto, mas pra amar o que é exposto na superfície dos meus desejos. 
Qual o teu sonho de hoje, alma?’
Essa é a pergunta que ela se faz todos os dias. E não precisa de muito para que aquela mulher torne reais seus pensamentos. Basta a coragem e o sorriso. 
Hoje ela vive a vida que sempre quis.


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