"(...) Como te encontrar assim numa quinta e ter a certeza que desde domingo, eu já sonhava alguém como você. E te esperar chegar do trabalho, fazer hora numa livraria qualquer e ficar imaginando quais livros você leu na infância. Comprar livros novos para você, também. Te dedicar "Secret Garden", do Bruce Springsteen, e os dias de sol. Nos dias de chuva, sorrir do teu nariz vermelho e do teu casaco amarelo. Horrível, mas teu. Lindo, sendo assim.
Sentar no chão do box quando quisermos conversar sobre o dia, mas a gente não tem grana para comprar uma banheira. Te admirar abrindo a torneira com medo da água fria. Ver teus olhos fechados e teu sorriso-sem-mostrar-os-dentes enquanto a fumaça da água fervendo toma conta do banheiro. Brincar de escrever nossos nomes no espelho, nos cadernos, nas árvores e em nossos corpos. Com-hidrocor-vermelho, você diz.
Rabiscar você em meu destino.
Casar com você sempre que for sexta-feira. Fazer de todos os dias uma nova sexta-feira, mas eternas segundas-tristes quando não estamos lado a lado.
Dividir o mesmo prato, o mesmo copo e a mesma casquinha de sorvete meio-a-meio. Ou só chocolate, mas nunca só baunilha. Rir de você bêbada. Rir de você sóbria. Ri de você blasé. Morrer de medo de você nervosa. Morrer de tédio com você triste. Ser teu super-herói com você com medo.
Te beijar. Sempre que eu puder. E até quando não puder. Quando você tiver de batom, toda linda, e te bagunçar feito um palhaço. Te lamber como um labrador amigável. Te arranhar como um gato arrisco.
Ser teu bichinho e tua presa.
Tua calmaria e tua pressa.
Gritar quando você não ouvir meus silêncios desesperados. Berrar palavrões quando eu for exagerar minhas declarações às avessas porque eu te amo tanto que literatura nenhuma conseguiria exemplificar isso, essa-porra, irei dizer.
Te ter como se nunca tivesse vivido sem ti.
E te amar com medo de lembrar o que é não te ter comigo."
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Hugo Rodrigues
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