sábado, 8 de março de 2014

"Declaração à queima roupa ", por Ita Portugal

Escuta. 
Quero dizer o quanto gosto de ti.
Gosto do teu jeito cheio de reticências para dizer o nada quando espero tudo. Tu bem sabes o quanto gosto e me rendo as tuas estampas fragmentadas de alegria. 
Ah, conheço o teu jeito desabrigado de introduções poéticas. Eu gosto!
Teu jeito presente em poucos minutos e ausente por eternidades. Você bem sabe ser devagar, enquanto eu com numa correria desenfreada revelo todas as minhas intenções.
Te gosto e gosto das suas respostas incompletas, disfarçadas, seduzidas de porém e questionamentos.
Fico impressionada com teus dias de ruínas, onde a vulnerabilidade pede colo e eu gosto disso. Gosto demais de tuas descabidas perguntas exigindo respostas que eu costumo bobamente esconder.
Tu sabes o quanto te gosto. Da tua audácia silenciosa que não permite concessões moralistas. Gosto quando escondes a verdade , mas deixa a face denunciar a alegria.
Gosto do teu olhar firme que se refestela interpretando meus mistérios. Aquele seu lance que desafia as minhas confusões e leva-me a um esforço tremendo para disfarçar meus sentimentos. Tu sabes!
A tua música com acordes de pertencimento que enlouquece meus sentimentos e contraria teus inexatos sentidos, fazendo ilusória a minha esperança. Tua fervorosidade ao bom gosto, ao clássico, as gentilezas, ao intimo, sensual e misterioso. A tua composição altruísta, escrita pelos dedos longos de uma mão firme, macia e acolhedora. A tua habilidade em vasculhar literatura para encontrar a melhor palavra, o melhor momento, a melhor poesia e dizer com o texto aquilo que está no coração. O teu dom de encantar com o silêncio e comprovar com apenas uma palavra. O charme de te precisar. O nosso passado onde tínhamos um itinerário. As hipóteses de felicidade. A tua ingenuidade disfarçada em orgulho besta. Aliás, gosto de ti em todo esse parágrafo.
Gosto da eterna sintonia que direciona o nosso pensamento, embora nunca tenhamos falado sobre isso. Gosto da chance te encontrar e igualmente das improbabilidades de não dar certo.
Gosto porque você não é normal, tolerante, sociável e domável.
De ti eu gosto tanto. Gosto imensamente. Gosto bastante. Gosto muito.
E que nunca seja proibido eu gostar.


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