quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

"E por tudo isso eu escolhi você", por Karine Rosa

Foi por causa do seu sorriso assumido de canto. De um jeitinho sacana de quem sabe (sabe?) que nasceu para ser livre, leve, solto e filho da puta. Foi por causa desse seu ar afirmando que consegue a mulher que quiser. Mas, principalmente, pelos seus abraços apertados de quem diz que eu sou um paradoxo sentimental: seu tudo e também nada. Que eu tô aqui agora, mas não preciso estar aqui pra sempre. Que no fundo você me ama, mas, da boca pra fora, não tem sentimento nenhum por mim.
Foram as discussões baratas que me dão vontade de te matar. Ser passional ainda é crime? As briguinhas por um ciúme besta que você nunca assume. E as vezes que você discorda só porque adora me ver irritada. Foi por causa dos pratos quebrados, das roupas que eu joguei pela janela e das noites em que eu disse para você nunca mais voltar. Mas voltei, não foi? Foi também pelos dias que você não voltou, pelas flores que você não deu e, além de tudo, pelas declarações silenciosas que emite em gestos, quando não grita amor, mas ama.
E foi pelo seu jeito de cuidar. De me cuidar. De perto, de longe, com os braços ao meu redor e só com os olhos. Eu nunca precisei de ninguém, mas de alguma forma eu me vi precisando do seu cuidado. E você me ganhou ali, quando viu a minha parte não-tão-segura-assim escondida por trás de paredes que aprendi a construir nas telas, talvez por falta de cor, talvez por falta de aquarela. Pena que me fiz em uma redoma de vidro que você quebrou.
Eles disseram que nunca daria certo. E foi um pouco por isso também. Porque eu sou teimosa, marrenta e quero sempre mostrar para o mundo que eu luto pelo o que eu quero. E eu lutei por você, o príncipe desencantado, que nem chegava a ser sapo, que, segundo eles, só tinha defeitos. Eu lutei por você enquanto você lutava com todas as forças para fingir que não me queria. Pra não demonstrar que, escondido, você estava ali me escolhendo também.
Foi porque você me desarmou (e me deixou te desarmar por completo). E nós dois ficamos desnudos e de peito aberto para o que a gente resolveu viver. Assim, contra tudo e contra todos – até contra nossos nós e nossas personalidades que não sobreviveriam no Coliseu.
Foi, principalmente, porque você não fez questão. Não gritou que me amava e, por isso, sem querer, derrubou os obstáculos. Me quebrou inteirinha para, depois, me reconstruir encaixando com você. E aí, parou de lutar e me deixou te fazer só meu.
Entendeu? Foi por isso.
Foi por isso que eu escolhi você.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

"Um texto pro J.", por Thais Cinotti

Meu amor quase sempre é lindo, tem cheiro de aconchego e um gosto salgado de quem batalha todo dia, pra ser o que é. O meu amor tem voz calma, tem olhos bonitos, tem uma curvinha no nariz que me rende versos bonitos, quando penso nele. Como se Deus soubesse que eu iria olhar aquele rosto muitas vezes e tivesse feito uma marquinha pros meus olhos terem de frear e olhar tudo com calma, sem velocidade. O meu amor tem a palavra certa. Tem o gesto exato e o dom de parar o tempo. O meu amor tem vezes em que é malandro, quase sempre escapando dos problemas. Mas tem um riso que não me esconde suas malandragens, condenando-se todas as vezes que insiste em tentar se desvencilhar de mim. Nunca mede suas palavras, não percebendo que as vezes sua voz parece um trovão e me assusta. O meu amor parece um personagem de livro antigo. Aqueles livros em que a gente lê repetidamente na infância, como um mantra. O meu amor é meu mantra. Ele tem cócegas e uma risada quadrada de criança que não tem medo de rir. Ele não sabe que faço versos sobre isso, também. Parece um gato manhoso, quando pede colo. O meu amor lê poesia sem respeitar as vírgulas e versos, parecendo assim uma eterna frase sem pontuação. Ele me fez chorar feito menina, quando me leu Vinícius de Moraes no meu aniversário. Ele não imagina que gosto de olhar pra ele, quando ele está longe. É que meu amor, quando olhado de longe parece uma estátua grega, ele tem aquela pose de alguém que veio ao mundo sabendo exatamente o que quer. As vezes eu acho que ele não sabe bem. Mas eu não me importo, eu lhe ensinaria o caminho pra qualquer lugar. Basta que me levasse junto, basta que me deixasse pertinho. O meu amor gosta de belezas e extravagâncias, como um rei que ergueria um palácio pra sua rainha, só pra mostrar que a ama. Ele nunca acorda cedo e gosta de beijos estalados. Parece um professor quando desata a falar sobre História e Geografia. Meu amor entende sobre filosofia e tenta entender minhas loucuras e teorias, quase sempre. As vezes me maltrata com sua relapsa memória e descuido, parecendo assim que me deixou. Mas logo volta, com um sorriso largo e olhos pequenos, repetindo que me ama e me pedindo pra ficar. Sempre volta. É a característica mais bonita que ele tem. Mesmo quando meu amor disse que não voltaria mais, ele voltou. E ficou. As vezes, ele diz que não existe lugar melhor pra viver do que nos meus braços. E eu sorrio. Como sempre. Porque desde que meu amor chegou, a vida ficou mais interessante. E as cores são mais vivas, as festas são mais bonitas e até o céu ficou mais azul. Eu juro. Desde que o amor chegou, eu não parei mais de sorrir.
E o amor sempre fica, mesmo quando ele vai. 

"[...] Nisso ela está certa, eu sou imaturo e se eu soubesse o que é o amor não tinha armado essa balbúrdia. Mas, caralho, não sou bobo. Ou sou? Puta-que-o-pariu. Essa é boa. Tudo que eu queria era provar a inexistência do amor integral, e não descobrir que o sentimento obscuro possui milhares de ramificações excêntricas e passíveis de interpretações desastrosas." - Gabito Nunes


"Se todos fossem ficando tristes, mais tristes, todos se acabavam em ruindade (...). Alegria tinha que ser chamada à força. Era preciso chamar a alegria, como se chama a chuva, na desgraça ou numa seca demorada." - Guimarães Rosa

"Por aqui o amor vem e vai, e me leva pra outro lugar no escuro. E me estica pra esperança. Que de tanto bater aprendeu a dançar. Meu coração virou uma safadeza só. Dessas das boas que acende a luz de madrugada pra sair pra rua feito criança perdida mas que, na safadeza sabe onde vai. E volta e vai e a gente se acaba em riso numa ideia barulhenta que dorme depois, de dia. Dai ele recua e fica de longe sentado numa cadeira de rei fazendo um filme dos meus traços esperando que um cupido estúpido me leve de volta pra sua carruagem. Não sou gata, meu rei. Sou borralheira, não nego, pago se quiser. Faço gosto dessa vida porque é maravilhoso tudo que me liberta e solta o riso sem esperar. Tem mistério e não tem licença pra acontecer. Tem desejo. Ando agora por uma estrada torta usando vestido que voa cada vez faço uma curva. E o vento traz aquele gosto e cheiro de quero mais, quero mais é morrer vivendo assim, de amor em cada esquina. Um vem e volta, volta e vai, vem e fica pra depois ir de novo e sempre mais. Sem pedir pra acontecer de novo. E depois nada tem importância e isso é a coisa mais importante, ser efêmero e eterno ao mesmo tempo." - Vanessa Leonardi



“Já que não tenho coragem de assumir minha loucura, queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse ‘’ei, você se expõe demais’’ e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar porque eu sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole na frigideira.” - Tati Bernardi


- sobre o que é o Amor...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

"Eu gosto do estranho, do incomum. Gosto daquilo que confunde, que permite diferentes interpretações, que fica nas entrelinhas. Gosto do que aguça a curiosidade, que provoca. Gosto do sarcástico, o normal me cansa, entedia… Queriam-me quotidiana, fútil e tributável ? Impossível, eu complico mesmo. É mais gostoso assim." - Martha Medeiros


"Estabelecer limites, descondicionar, permitir-se mudar de narrativa, direção, respirar. Para isto escolher: ir embora ou ficar? Antes de qualquer coisa, entender-se dentro do contexto ou do conflito. Perceber quão desconfortável ou aconchegante. Se extrai luz ou esvazia. Se há troca e parceria. Saber receber para doar-se sem doer. Estar tão complemente confortável na própria pele que o Outro jamais será uma invasão, mas uma possibilidade de ajuste ou a necessidade de dizer um doloroso ou convicto ‘não’. Preservar sua individualidade para respeitar a alheia. Desvencilhar-se da necessidade de controle para que se estabeleça a intimidade. Descobrir se a relação é feita de reciprocidade. Demarcar certos espaços para que duas pessoas inteiras se entrelacem. Trabalhar-se arduamente para que haja independência, a que preza pela disponibilidade afetiva. E não se acomodar na dependência da carência quando tudo o que se quer é, simplesmente, viver uma história bonita." - Marla de Queiroz




terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"Ao amor da minha vida", por Daniel Bovolento

De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. Mas cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis.  Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça. Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida.
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Eu escrevi algo semelhante aqui, oh: http://pboucolor.blogspot.com.br/2013/01/procura-se.html

"Sua barba roçando minha barriga, seus beijos de bom dia, seu abraço apertado, minhas pernas entrelaçando sua cintura, teu olhar em cima do meu. Minha cabeça no seu peito, meus carinhos no seu cabelo, o pôr do sol na beira do mar... A tristeza que a falta traz, e que o reencontro apaga, as mãos dadas, as brigas banais. Na minha pele as marcas da sua vontade. E um querer que talvez o tempo consiga curar. Eu vou seguir sendo tua até que alguém ocupe o teu lugar. Só me resta engavetar a saudade junto com as palavras não ditas, e com as lembranças do que nunca existiu." - Karla Tabalipa

sábado, 1 de fevereiro de 2014

"Quem é feliz sem um toque de imaturidade?", por Hugo Rodrigues

arte do Vi-Venes
Tá, mas quem falou que amar é algo sobrenatural? Amor é simples e, de tão simples, acontece nos menores lugares. Amor é simples, não simplório. Amor é pequeninho – é tudo com inho que o amor pode causar. Beijinho. Abracinho. Beicinho. Bonitinho.
Amor é pensar em dizer me-liga e receber um SMS ao mesmo tempo. É fazer compras juntos. É passar a tarde inteira esperando ela fazer o cabelo ou ele sair do futebol com os amigos.
Amor é companhia. Tem um quê de infantilidade, eu sei. Mas quem é feliz sem um toque de imaturidade? Amor é dançar juntos sem saber dançar. É esperar o outro acabar de comer. É tomar banho juntos para não se atrasar – ou pelo prazer de lavar as costas um do outro. É se irritar com a barba arranhando o queixo e com os brincos gigantes que nos machucam quando vamos abraçar a pequena e tudo se embola: brincos, cabelos e nossas mãos ali perdidas.
Amor é se reinventar, eu sei. É querer, de boa fé, que o outro faça mais por ele. Estude mais. Trabalhe mais. Leia mais os contos do Coiro. Ouça só essa banda. Já viu a academia nova? Por que você nunca chega no horário? Por que você nunca está pronta no horário? Como você não gosta de comida japonesa? Como você nunca foi a um estádio de futebol? Como? Por quê?
Amor é um misto de perguntas sem respostas e respostas sem perguntas.
Amar é dividir: a cama (mesmo sabendo que essa divisão é injusta aos homens), as casquinhas de sorvete, os milkshakes de ovomaltine, o sofá e a vida. Amar é ter ciúmes de um cara que deu um beijo qualquer na pequena em novembro de 2001. Tão ridículo, mas incomoda. Como naquele ciuminho idiota que causa ao falar o nome da primeira namorada que o teu rapaz teve no verão de 2002 e durou apenas três meses.

Amar é idiota. É besta. É estúpido. É desnecessário – como todas as coisas inesquecíveis da vida.

"Eu não sei se é o calor ou se são os dedos. Não sei se são os cílios ou o laranja. Eu não sei de onde vem, e jamais posso imaginar onde vai dar. Eu não durmo, eu suo, eu enrubesço só de pensar. Me deixo viver aquelas borboletas no estômago que só existem quando se é adolescente demais para não sonhar um beijo, de tantas formas de um jeito docinho e cinematográfico. Imagino o cheiro do hálito, imagino os nós dos dedos se esfregando nervosos nos meus. A pontas dos dedos coladas, que me fazem ofegar. Esses sentires desgovernados, anárquicos, libertários e libertinos. Sem entender nada, eu vivo esse mar de possibilidades, sem saber qual delas me atrai mais. E mesmo em rebuliço por dentro, nada pode perder seu rumo, porque é de afeto e sem dúvidas. - Onde será que ficam as mãos quando você beija?" - l u a