sexta-feira, 22 de abril de 2016

- sobre "Meninos de Abrigo"

Que nem toda Mulher queira ser Mãe é perfeitamente justificável e de todo compreensível. Eu quero ser o que eu quiser!, só e simplesmente define.
Que nem todo Homem compreenda, sequer aceite, que ser Pai é uma sua escolha, livre e consciente, ou mesmo que assuma tal risco com quando se esquiva em prevenir-se, é um ideal a ser perseguido nos rigores da lei ou nos versos de um poema.
Doutro norte, ser Filho não é uma escolha. 
Ser Filho é o que se é, sem muitas justificativas e maiores compreensões, não havendo aceites, tampouco quereres. Não escolhemos ser Filhos, muito menos fazemos fila e pegamos senha para a escolha dos nossos genitores. Somos o que somos e com isso temos que nos a ver.
Crianças e adolescentes podem ser Filhos de Mulheres que, por motivos seus (talvez nossos!), não escolheram ser Mães. Outras, ainda, que não souberam (ou não conseguiram?) prover-lhes cuidados, e, para além, dar-lhes afeto.
Crianças e adolescentes podem ser Filhos de Pais que, por motivos seus (seus!), não quiseram ser Pais. Homens que, por suas razões, recusaram a paternidade, oxalá por não terem-na suportado, ou quiçá conseguido serem Pais...
Há Filhos que contam com Mães, outros com Pais, poucos com ambos, contudo, Filhos que vivenciam situações que não permitem que essas Famílias [sobre]vivam de forma sadia e razoável, ou como quer os ditames da lei, ou como quer a mídia como quando vende a família no comercial de margarina, ou como quer a novela global das oito e suas Helenas, ou como querem os críticos pseudo-mantenedores do Bolsa-Família, ou...
É, assim, que, principalmente, a partir de um modelo frustrado de Mãe, Pai, Família, temos (todos!) os Filhos do Estado.
Esse Estado que acolhe, que, a seu modo, garante a subsistência, confere segurança, que proporciona acesso aos direitos de educação e saúde, é o mesmo que, a seu tempo, abre-lhe as portas e, sem muitas gentilezas, os coloca às ruas.
Crianças e adolescentes institucionalizados em abrigos educacionais por força de medida judicial de proteção, se não adotados ou se não retornarem à convivência familiar de origem ou mesmo à extensa, aos seus dezoito anos de idade, tem frio e cruelmente rompido o vínculo protetivo com a Família que o Estado, a seu modo e a seu tempo, fez as vias. O Estado é a Mãe que não soube ser Mãe; é o Pai que recusou a paternidade.
Chegada a maioridade civil "ganham", os Filhos, a liberdade de serem o que puderem, e, muitos, seguir como tais - Filhos do Estado - porém na condição de internos de abrigos públicos e albergues municipais, hospitais psiquiátricos, e, estabelecimentos prisionais.
Olhemos em nosso entorno!
Os Filhos do Estado estão aqui e acolá. Agora ou aos 18 de idade.
OS Filhos do Estado somos todos! Na medida de nossas limitações, na esquiva de nossa responsabilidade, na esteira de nossa imbecilidade.
L.C.

Reportagem de Joana Soarez e Natália Oliveira: 
"Meninos de Abrigo"

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