sábado, 8 de janeiro de 2011

sobre aquela nuvenzinha...

[...] E soube conduzir-lhe os primeiros passos. Com brevidade, assistiu  aos de ballet. 
Batia-lhe palmas, olhos marejados contemplavam o seu pedacinho feminino que generosamente Deus concedeu vida.

Riu de suas gracinhas, suas palavras mal pLonunciadas e seus biquinhos de manha, que não foram poucos...

E juntos choraram as noites febris, o primeiro joelho esfolado e os incontáveis galos na testa.

Afagava-lhe os cabelos - à época cacheados, e se dependesse dele para sempre assim seriam, porquanto aqueles cachos causavam-lhe o embaraço provocado pelo odor de se amar quem ainda pouco sabia ser.

Ensinou-lhe o 'desculpa', 'por favor' e o 'muito obrigada', e em vão, a Matemática.
Ela não era dada aos números. Preferia folhear os seus livros na busca por descobrir, já na mais tenra idade, o que se transformaria no amor a arte de Caio.

Enciumado ao saber de um tal primeiro amor, ignorou que a sua pequena crescia, e presenteou-lhe com a boneca dos mais coloridos laços de fita,  com ela parecida; queria oportunizar-lhe ser um pouco mais criança...
E quantos não foram os balões de festa, as tardes no parquinho, os Pai Nosso ao pé da cama, os desenhos animados no sábado pela manhã e os vestidos cor de rosa...

Um sem número de vezes acobertou da mãe as suas peraltices de criança, afinal, educar também é permitir errar.

E, de repente, ela cresceu e somente seus olhos se deram conta: eram brincos estilo hippie, cores extravagantes nas unhas corroídas, oscilações frequentes de humor, extensas as contas de telefone e o tamanho dos saltos. Era a temida puberdade que se aproximava.

Sob ele se abateu a dor. Não a de vê-la sofrer com as primeiras crises de amor, mas a dor física, de uma tal doença que privaria-lhe a alegria de acompanhar o avançar do seu crescimento.

E, por isso, chorou. Certamente, muitas vezes, mas não na sua frente, afinal, precisava transmitir-lhe serenidade e a segurança de que 'haja o que houver, eu estarei sempre aqui!'.

Com o tempo, achou melhor evitarem que a sua pequena o visse partir. Sua alegria não podia respirar aquele ar fadigado e triste. Era um mal necessário. Desejava que apenas restassem as lembranças das tardes de magia, onde se fundiram luz e felicidade em aparente uma única vida.

E assim partiu... 
Transformou-se em nuvenzinha abrigada no céu, perto Daquele que conferiu-lhe o prazer e a honradez de por ela ser chamado de PAI 




Com todo o meu afago a Marcela Lima.

2 comentários:

  1. Não sei porque, mas eu chorei. Lindo texto Lívia, conseguiu me emocionar.

    Um beijo!

    Amanda.

    ResponderExcluir
  2. Obrigada, Amanda.
    A emoção sempre dá o tom às minhas publicações!
    Volte mais vezes!
    Um beijo!

    ResponderExcluir