Não mais desejo amores infernizantes, intempestivos, desmedidos...
Tudo o que mais quero é o amor simples, sereno, e sob medida.
Quero o amor que ainda me faça sentir aquele muito e sempre, mas que seja de um modo diferente, e que me apresente essa diferença, contraditoriamente, pouco a pouco, pouco a pouco, pouco a...
Quero palavras conexas, orações honestas, e que todas sejam de autoria própria. Dispenso algo muito elaborado, tampouco, quero frases de efeito de um qualquer renomado escritor estadunidense, catalão ou best-seller que for...
Eis-me aqui, disposta a reaprender o significado para simplicidade.
Quero o amor que não confunda orgulho com amor-próprio, teimosia com personalidade, indiferença com introspecção, insegurança com bipolaridade, fragilidade com sensibilidade. Desejo o amor que faça rir, que só me cause dor no muito gargalhar.
Quero três dos sete pecados, lua cheia, pele, sedução, gozo e vozes, de uivos a sussurros.
Mentiras sinceras interessam somente a Cazuza, e contos de fadas permaneçam na lúdica literatura infantil. Prezo a sinceridade, nos mesmos moldes do muito e sempre. Quero a vida real, os seus dramas e dissabores, (sobre)vividos a dois, até o final. E no tempo das benesses, quero vivê-las todas e igualmente a dois, desejando - juntos - que elas não cheguem ao final, para, no mais belo pleonasmo que há no dueto de dois, pedirmos em coro: paz e alegria, fiquem mais?! Só um pouquinho, só mais um pouquinho...
Quero com o amor cultivar samambaias, charme, fotografias, trechos de Caio e versos de Chico.
Ora, só quero um amor com boca e mãos desmedidas, daquelas de intimidar pelo poder que revelam ter quando menos se esperar. Quero toques e olhares amiúdes, daqueles de causar comoção por suas sutis ousadias, e a cegueira provocada pela clareza da sua grandiosidade.
Quero a sinestesia no gosto que o cheiro do oposto tem, de Gadú. Quero ver as cores do seu silêncio, e quem sabe pintar um arco-íris de energia, da outra Rainha.
Quero falar de amor sem parecer infantil, e parecer criança quando precisar de um colo, de um tablete de Suflair em dias ruins e um tapa na bunda, em noites quentes.
Quero me sentir adolescente com recadinhos presos no espelho do banheiro, ao ouvir aquela música em volume ensurdecedor, bater a porta do quarto quando de raiva sofrer, pintar as unhas de verde-neon só para chamar ainda mais atenção, e ter coragem para furar a fila do cinema só para, no escurinho, mais rápido com o meu amor poder ficar. E ficar, quero a cada dia poder ficar com uma face oculta do meu amor, e muito e sempre apaixonar-me por todas elas.
Quero sentir-me adulta no trato com as contas do mês; todas, divididas por dois. Quero planos fazer, para em viagens honrá-los. Quero três filhos gerados pelo amor, indiferente de quem de nós biologicamente puder gerá-los. Quero pedaladas domingo de manhã, tardes na Café com letras e jantares românticos no japonês, ou mesmo em pé se lambuzar com um hot-dog e assim lambuzar o outro por um surpreendente encantamento.
Quero viver a maturidade do amor, com direito a rugas e reumatismo, além de uma esclerose gostosa de sentir sem perceber que a tem. Ir acompanhada ao baile da terceira idade, jogar milho aos pombos sentados no banco da velha praça, contemporânea do nosso amor. Quero descobrir a dois os (des)encantos da Internet. Usar Renew e tomar Centrum não para omitir os anos vividos, mas sim, estar bem para outros vindouros. E netos, quero no mínimo uma dúzia deles. Quero muito um amor que ame os seus netos um pouco além da minha capacidade, para tentar me provar que o amor não tem mesmo medida. Quero esperar o fim dos dias unidos, e viver cada um deles como se o último fosse, mas de verdade, e na intensidade real que não se encontra nos clichés socialmente propagados.
Quero na eternidade, amor, reencontrá-lo, redescobri-lo e assim re-amar.
Oh, Amores loucos, cansei de vós e da sua uma indefinição!
Oh Deus, quero o amor! Assim, em artigo definido e o determinado.
Lívia =]