segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lívia descrita por Fabrício Carpinejar


. Eu amo desorganizado, desenvergonhado. 
Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. 
Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. 
A confusão é quase uma solidão adicional. Uma solidão emprestada. 
. Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer. 
Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio. Quisera resistir mais. Mas eu faço comigo a minha pior vingança. 
. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta. Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu. Se não suporto o meu próprio amor, como exigir isso? [...] Não me dou paz sequer um segundo. 
Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violento com a respiração e virar asma. Até a minha insegurança é amor. 
[...] Uma ânsia de ser feliz maior do que a coordenação dos braços. 
. Um arroubo de abraçar e de se repartir, de se fazer conhecer, que assusta. Parece agressivo, mas é exagerado. 
Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas como uma tragédia. Nunca o riso ou o choro acontece quando quero. 
Cumprimento como se fosse uma despedida. 
Desço a escada de casa ao trabalho com resignação, mas subo na volta pulando os degraus.
 . Esse sou eu: que vai pela esperança da volta.

Fabricio Carpinejar

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