Pertencia a uma linhagem de matadores de aluguel. Todos registrados com nome de imperador romano: Otávio Augusto.
Bisavô, avô e pai assassinos, exceto, ele.
Ele, apesar de Otávio Augusto, dedicou sua carreira aos crimes contra o patrimônio.
Seu filho não chamou Neto, Filho ou Júnior, contudo, recebeu nome de imperador romano: Júlio César.
Foi concebido no maior complexo penal de segurança máxima da região, onde o pai cumpria pena há vinte anos.
Faltou pouco para a mãe parir no pátio destinado ao banho de sol.
Suas lembranças de infância remontam às revistas íntimas nos domingos, aos aniversários entre grades e aos jogos de futebol com os filhos dos internos.
Quando completou nove anos de idade, a mãe descobriu a infidelidade do marido, sendo ele obrigado a romper com o pai.
No entanto, entre todos os filhos, era o único que herdara a sua pele caucasiana, ao contrário dos demais, que exibiam a melanina escura da mãe.
Para sobreviver, esta alternava entre a prática da lavagem de roupas e do tráfico, devidamente aprendido com o ex-marido.
Numa tarde, enquanto aguardava a chegada de nova remessa da carga, foi presa pela polícia federal paulista sob a acusação - procedente - de tráfico internacional de drogas.
Os filhos passaram aos cuidados dos avós durante o cumprimento da pena.
"Aos cuidados" por força de expressão, porquanto tudo o que o avô menos fazia era zelar pelos pequenos.
Dado às práticas sadomasoquistas, extraia o sangue dos netos com um punhal.
Para além, eram todos obrigados a escutarem os seus gemidos de gozo com as amantes, pelas madrugadas adentro, no barracão de três cômodos.
A avó, revoltada, voltava-se contra as crianças e as agredia da forma igualmente degradante com que era tratada pelo marido.
Por motivo que não sabe precisar, passa a residir com o tio. Este, não raro bebia cachaça e surrava-lhe, assim como às irmãs menores. Numa dessas, partiu em disparada para a rua, quando foi atropelado por um automóvel. Internado por longo período dadas as múltiplas fraturas, retorna para o convívio da mãe, após a progressão para o semi-aberto.
Vida nova! - pensava.
Já adolescente, passa a acompanhar os amigos em pequenos furtos e a praticar o que o Marcelo D2 dizia nas letras do Planet Hemp.
A mãe, conhecedora profunda do sistema carcerário nacional, decide mudar-se com a família de bairro, a fim de afastá-lo das ditas "más companhias".
Ignorava, outrossim, a dinastia dos Otávio Augusto.
Por contar com aparência que confundiria Cesare Lombroso em seu "O Homem Delinquente", passou a compor quadrilhas especializadas em roubos a bancos, em pouco tempo, vindo a chefiá-las.
Auferiu lucros expressivos, empregando-os em carros, joias e festas.
O mal do esperto é achar-se único, e, com isso, ainda adolescente, foi apreendido pela militar em flagrância. Sem acertos, arregos e congêneres, é condenado.
Coincidência ou não somada àquela nova realidade, descobre que dentro em breve tornaria-se pai.
Desespera-se!
Esbravejava aos quatro ventos que, na primeira oportunidade, pularia a concertina.
Com receio de receber condenação ainda mais gravosa, decidiu não fugir, empenhando-se em descobrir atividade para além de roubar.
Retornar à escola estava fora de cogitação; não tinha boas lembranças daquele período de sala de aula.
Passa então a trabalhar como servente de pedreiro. E, como tal, revela-se um bom pintor de paredes.
Consente com a escola após um certo período, convencido pelo argumento legal de ser a escolarização um dos pilares da medida socioeducativa.
É matriculado na educação para jovens e adultos.
Otávio Augusto inicia movimento contrário aos seus anteriores: deseja tornar-se um bom exemplo para Júlio César!
Em pouco tempo destaca-se no trabalho, e, com isso, recebe uma bolsa para o curso técnico de uma faculdade particular. Encanta-se com o ambiente, pessoas e com a tecnologia do cartão que destravava a catraca para acesso a sala de aula!
Na escola, destoava-se dos demais alunos: gostava de ler e sabia redigir.
Aplicado nas aulas de Português e História, é selecionado para palestrar a cento e vinte pessoas a história de vida de um pintor romano.
Trabalhando como gesseiro, concluiu com êxito o curso, sendo bem recomendado pelos professores.
Cessa com as atividades criminosas, até mesmo quando deixa de dirigir não habilitado. Decide, pois, tirar a CNH para transportar seu rebento com segurança.
Do pai mantém distância, não desejando saber quando o mesmo voltará em definitivo para o convívio social, porque familiar, ninguém sequer cogita a hipótese.
Otávio Augusto receberá sua liberdade em definitivo por esses dias.
Sim, a sorte está lançada*!
L.C.
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Os nomes foram trocados para manter a identidade dos personagens reais a salvo.
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