quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Glória,

para além de um significado, é uma mulher.

Mulher comum que odeia o espelho ao acordar, que borra o olho esquerdo no maquiar, atrasa-se com o café, esquece o óculos escuros contra sol, porém leva consigo o guarda-chuva, e vê-se inerte ante ao caótico trânsito de uma metrópole qualquer.

Mulher que teve infância lúdica, adolescência crítica, e, agora, não sabe definir-se. 
Ao ler numa tirinha de jornal que "definir-se é limitar-se", respirou aliviada, pois tudo o que ela não deseja são limites outros daqueles estabelecidos por ela mesma e uma sociedade.

Mulher que sente que as fases da lua inspiram a vida: vez Cheia (de tédio), noutras Nova (de surpresas), porém não crê em crescimento do cabelo na Crescente, muito menos no enfraquecimento das unhas na Minguante; para um visual minimamente apresentável, procure um bom salão, com uma exímia cabelereira e uma manicure vegetariana. 

Mulher que distribui sorrisos durante o dia mesmo sentindo a solidão abater a si no cair da noite, oportunidade em que lança o soutien sobre o sofá, queixa-se da comida congelada, sente o cheiro do chuveiro a queimar e protela o descanso ante a falta de um (a)braço a esperá-la na cama.

Mulher de muitos dilemas entre trabalho, trabalho, trabalho e não sentir-se amada. 
Ora, qual valor teria uma conta bancária de muitos dígitos se não tiver a quem presentear no 12 de junho?

Mulher que inventou um Amor e passou a acreditar na sua farsa. Quando questionada, afirma convicta o ser solteira, embora sorria com o eu-íntimo a beleza da fantasia armada. E com ele se queixa, por ele se declara, junto dele sente-se acolhida, e a si mesma apalpa quando o ama, sendo para ele o seu melhor 'eu te amo'.

Mulher que não está em dia com a terapia, tampouco com a leitura das últimas páginas do best-seller da situação. Não mais discute política e muito menos religião, tratando futebol com os aposentados que buscam o jornal na padaria.

É mulher que não visita o túmulo da avó para ter sobre quem reclamar saudade. 
Rejeita chamadas no celular por faltar-lhe motivos para mais uma recusa de qualquer convite. 
É isso, suas amarguras são todas muito especiais.

A Mulher de fases dos Raimundos, complicada e perfeitinha, só lambe picolé de limão, mantendo-se casta até então. Ovula e sangra mensalmente, sem saber qual proveito tirar nisso. Passa a cogitar uma produção independente por sentir a proximidade da cronológica maternidade. Daqui a pouco mais de três anos, que venha o seu rapagão!

É mulher que conclui que o Amor não fora feito para si, mas de si. É dela que força, fé, sinceridade e ternura honrarão o seu nome, e, assim darão sentido ao seu registro de (re)nascimento.

Não sou Glória, mas como ela,  me sinto: 

- Prazer, Lívia, Glória!

- O prazer é todo o meu, Glória, Lívia!

L.C.

Nenhum comentário:

Postar um comentário