quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Escrevo seu nome no grão de arroz
Ele a desejava em silêncio.
A uma, porque não mais permitia sentir em demasia, valendo-se, portanto, do disfarce, afinal, era relativamente recente a memória das contrações, náuseas e efeitos colaterais outros sofridos após um sentimento mal curado do passado.
A dois, como explicar aquele repentino brilho nos olhos para os seus? Agravamento da Miopia jamais faria sentido. O que dizer daquele sorriso-involuntário-no-canto-da-boca se como bobo nunca foi visto, tampouco, tratado? Muito pelo contrário, era ele o franco e forte combatente, dotado de toda sorte de sabedoria! E a quais argumentos minimamente plausíveis recorrer na tentativa de fazer com que entendessem a atipicidade daquela relação? Em sendo assim, e para manter a sua auto estima e imagem social a salvos, passou a medir cada passo seu para que não notassem a realidade que se apresentava.
Tudo aconteceu muito rápido e muito diferente do todo até então vivido.
Distraídos, encontraram-se. Despretensiosos, envolveram-se.
Mal comparando, tratou-se de um atropelo de placas de PARE e ATENÇÃO, desvios pelo acostamento, ultrapassagens proibidas, sendo inevitável o albarroamento daquelas duas suas vidas. Não existiria semáforo, radar ou polícia rodoviária que os impedissem de seguir seus trajetos, porquanto o destino já havia cruzado os seus caminhos, e o futuro os aguardava no primeiro dobrar de esquinas.
E buscava respostas nas passagens bíblicas, na maiêutica socrática, nos acordos internacionais que fossem, para, em vão, compreender o que acontecia. Jó, Platão e Kofi Annan vagariam na cegueira de suas ignorâncias frente aquela situação.
E qual situação era aquela, santo deus? Que se passava de racional em todo aquele frenesi de emoções e confusão de sentimentos?
Não com ele, não com ele...- repetia para si, na vã expectativa de não participar daquela idiossincrasia.
Relutou bravamente o quanto pôde, e muito fez para reverter aquele cenário: magoou, ressentiu e indispôs-se. Contudo, não imaginava encontrar, não à sua altura, tal pessoa e respectivos sentimentos, surpreendendo-se com os seus próprios, confundindo-se entre traídos e traidores.
Ora, ora, guerreiro que é guerreiro, com sangue latino de vermelho colorado, não permite(-se) entregar(-se) - ainda que pouco facilmente- à paixão ou algo que dela se aproximasse na definição! Em algum lugar repousavam a Verdade, a lógica e as coordenadas geográficas sobre si e sobre o que pensava sentir... buscou-as, então!
Não pode-se olvidar que as peculiaridades daquela situação impuseram-se presentes quase todo o tempo e despertavam a insegurança e evidenciavam a nenhuma/pouca exequibilidade da relação. Logo, chamou a si próprio à ordem e concluiu que, ante um problema prático de grande expressão e, sobretudo, repercussão, o melhor a se fazer é agir com a Razãozzzzzzz. Por esse motivo, acionou o botão do "deixar de sentir" e esperou os seus efeitos.
Primeiramente, buscou a companhia real de outra que despertasse e suprisse os seus desejos carnais. Bem sucedido!
Não suficiente, tratou de ignorar todas as investidas dEla de atenção e carinho. Assim, porém não aos poucos, foi minando aquele sentimento que sentia e via correspondência. Avançava nova casa!
Efeito 1, 2, 3, 4... e Ela deu-se por vencida. Era aguerrida, contudo, suas armas não a favoreciam. Para proteger-se, tratou de valer-se do escudo que lhe restava ao alcance das teclas do notebook e do touchscreen do aparelho celular. Se cada escolha compreende uma renúncia, a exclusão foi agregada a todo aquele misto de sentimentos.
(Blablabla... Fazia de um tudo para esquecê-lo, matando-o toda noite nos seus sonhos, muito embora ele insistisse renascer na seguinte. Não restava mais dúvida: tratava-se de um felino com sete vidas, uma para cada dia da semana.)
Ele, por sua vez, mantinha-se são e incólume, em ordem com as suas certezas, verdades e convicções. E assim será quando deste tomar ciência, que ninguém se atreva duvidar!
E, se a vida exige-nos um jazz, para ela faremos um blues!
"Tudo bem", diz a força da expressão.
Chato, chato e chato é ser o seu nome cogitado para o grão de arroz que um hippie insiste em grafar no centro da cidade...
L.C.
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