Ao cortar-se com a lâmina de barbear,
pensava nela.
Ao usar o relógio no pulso direito,
pensava nela.
Na dúvida entre a cueca vermelha ou preta,
pensava nela.
No elevador, andar 11,
pensava nela.
Ao conferir as correspondências na recepção,
pensava nela.
Ao atravessar o cruzamento da Afonso Pena com a Bahia,
pensava nela.
Ao tropeçar no cadarço encardido do All Star,
pensava nela.
Ao ler as notícias do dia,
pensava nela.
Ao ignorar o Horóscopo de Aquário,
pensava nela.
Na dúvida entre qual restaurante almoçar,
pensava nela.
Ao mergulhar discretamente a batata frita no brigadeiro de colher,
pensava nela.
Reunião e um celular que teima em vibrar,
pensava nela.
- Trânsito caótico dessa porra de cidade!,
pensava nela.
Ao sintonizar na 94,9 FM,
pensava nela.
Propaganda de lingerie,
pensava nela.
Na barraca de frutas, no sábado,
pensava nela.
Se Camélias, Orquídeas ou Tulipas,
pensava nela.
No cinema, ao comprar o maior combo de pipocas,
pensava nela.
Ao ligar o microondas para a lasanha descongelar,
pensava nela.
Página 46, "Misto quente", do velho Bokowski,
pensava nela.
Ao abrir a janela para a luz da lua entrar,
pensava nela.
Ao ouvir Raul,
sintonizar a novela das oito,
admirar Tarsila,
sintonizar a novela das oito,
admirar Tarsila,
pensava nela.
No chuveiro, enquanto cantarolava:
"Te amo com a certeza de que você pode ir / te amo com a certeza
de que irá voltar pra gente ser feliz [...] eu espero por você o tempo que for
/ pra ficarmos juntos mais uma vez",
pensava em si.
L.C.
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